Considerações
Sobre uma Escuta que Nunca é Desavisada
Angela Moreira Utchitel
Psicanalista. Doutora em Psicologia Clínica
pela PUC-Rio. Professora dos cursos de Graduação
em Psicologia e Especialização em Psicoterapia Psicanalítica
da Universidade Estácio de Sá. Coordenadora do SPA do
Campus Nova Friburgo desta mesma Universidade.
Resumo:
Seguindo as concepções psicanalíticas
sobre a feminilidade, este artigo tenta evidenciar a intrínseca
relação entre as concepções que marcam o
pensamento freudiano, o anglo-saxão e o lacaniano em relação
a esta
O plano aparentemente disperso e plural do universo conceitual da psicanálise
costuma ser avaliado não só em função das
divergências que teriam brotado da leitura da última teoria
pulsional de Freud, realizada por seus sucessores, como t temática
e o fazer clínico do analista.
Palavras-Chave:
Feminilidade – Psicanálise – Freud
– Klein – Lacan
Que Nunca é Desavisada Sobre a Relação entre as Concepções
Psicanalíticas acerca da Feminilidade
e o Fazer Clínico do Analista
Seguindo as concepções psicanalíticas
sobre a feminilidade, este artigo tenta evidenciar a intrínseca
relação entre as concepções que marcam o
pensamento freudiano, o anglo-saxão e o lacaniano em relação
a esta
O plano aparentemente disperso e plural do universo conceitual da psicanálise
costuma ser avaliado não só em função das
divergências que teriam brotado da leitura da última teoria
pulsional de Freud, realizada por seus sucessores, como t temática
e o fazer clínico do analista.
Também
em função dos interesses clínicos despertados e
acionados por patologias distintas da neurose. Sem desconsiderarmos
o valor dessas questões, temos aqui uma proposta de outra ordem:
tentaremos demonstrar que as divergências teórico-clínicas
observadas ao longo da história da psicanálise em seu
desenvolvimento podem também ser lidas e entendidas tomando-se
como parâmetro a concepção de feminilidade presente
em cada uma das principais escolas de pensamento em nosso campo.
Além disto, é nosso objetivo salientar que as diferentes
concepções sobre a feminilidade forjadas no interior de
cada uma das três grandes escolas de pensamento em nosso campo
– a freudiana, a anglo-saxã e a lacaniana –, mantêm
uma estreita relação com a direção do tratamento
a ser tomada pelo analista em seu ofício. Em função
disto, o que este artigo visa enfatizar é que as concepções
acerca da feminilidade, que atravessaram a história teórico-clínica
da psicanálise, mantêm uma estreita relação
não só com o plano de escuta de que se serve o analista
em sua prática, mas com aquilo que vai ser por ele privilegiado
como o horizonte da análise – não somente com analisandas
mulheres, como poderíamos imaginar num primeiro momento, mas
com todos os sujeitos. Para atingir nosso propósito, procederemos,
de um lado, a um breve recorte das diferentes concepções
de feminilidade que permearam a história da psicanálise
em seu desenvolvimento; de outro, demonstraremos a íntima relação
entre tais concepções e o fazer do analista.
As
Diferentes Concepções Psicanalíticas acerca da
Feminilidade
Não é exagero considerar a histeria e, mais precisamente,
o sofrimento das mulheres histéricas na virada do século
XIX para o século XX como um dos motores do nascimento da psicanálise.
Se quiséssemos, ainda que genericamente, situar as razões
deste entrelaçamento entre histeria e psicanálise, bastaria
lembrarmos que a histeria foi secularmente associada a um distúrbio
na esfera da fisiologia sexual das mulheres, o que acabou por torná-la
um alvo precioso para elucidar as relações entabuladas
entre o sexual e o psíquico. O fato de que a primeira aproximação
teórico-clínica de Freud sobre os distúrbios histéricos
se deu a partir do que pôde observar – e nos narrar –
tendo por base o atendimento a quatro mulheres1 vem confirmar esta impressão,
trazendo já à tona as indagações freudianas
sobre aquilo que, no terreno do exercício da sexualidade feminina,
se mostrava afeito às mais diversas manifestações,
como conversões, esquivas e inibição.
Sabemos, por outro lado, que Freud precisou percorrer um longo caminho
elaborativo para chegar, já na década de trinta, a nos
legar suas considerações mais refinadas sobre como se
daria o percurso da menina em via de tornar-se mulher. Se tentássemos,
sumariamente, sublinhar os marcos desse caminho, destacaríamos,
por exemplo, que foi somente a partir do atendimento a Dora que pode
estender sua concepção sobre o sexual, fazendo-o dizer
respeito a algo que estaria muito além do sexo. Deste modo, aliando
o que ouviu de Dora às reflexões tecidas nos “Três
Ensaios”, nas “Teorias Sexuais Infantis”, e mesmo
no atendimento ao menino Hans, pôde, já em torno de 1915,
trazer à consideração de seus contemporâneos
a idéia de que não possuir um pênis, ou seja, não
nascer dotada de um membro viril seria, para a menina, a causa dos maiores
infortúnios e dos maiores lamentos femininos. A noção
de que o complexo de castração responderia pelos avatares
no exercício da sexualidade passou, então, a ordenar a
perspectiva freudiana sobre a feminilidade, culminando com a idéia
de que esta seria atingida através da possibilidade de as mulheres
trocarem seu desejo de um pênis pelo desejo de um filho, movidas,
em última instância, por um poderoso sentimento: a inveja
do pênis.
Em função disto, é lícito sublinhar que
a feminilidade, em Freud, pode ser tomada como uma réplica simbólica
da masculinidade, tendo em vista que o substituto do pênis invejado,
o filho, seria alcançado pelas vias do endereçamento ao
outro do amor, o que faria com que o substituto simbólico do
pênis invejado pudesse ser encontrado numa criança real.
Resumindo, o que caracterizaria a feminilidade, aos olhos de Freud,
seria a posse simbólica do atributo fálico alcançada
através da maternidade.
Vale, então, observar que aquilo que costura ou que alinhava
a abordagem freudiana da sexualidade se ancora no registro dos efeitos
inconscientes produzidos no psiquismo pela diferença anatômica
entre os sexos; essa diferença se traduziria psiquicamente pela
oposição castrado/não castrado regida pelo falicismo
que caracterizaria a dialética do complexo edípico. Em
conseqüência, o complexo de castração se inscreveria,
então, como o elemento pivô no destino na sexualidade feminina,
produzindo dois principais efeitos no percurso edípico da menina:
de um lado, responderia pela troca de órgão, fazendo a
menina reconhecer que seu clitóris não é um pênis;
de outro, propiciaria a troca de objeto – da mãe para o
pai – necessária em seu destino rumo à feminilidade.
Retomar esses elementos tem o objetivo de mapear o quadro conceitual
de que se serve Freud para nos falar de sexualidade e, mais especificamente,
de feminilidade – questão que nos importa aqui, mais especificamente,
ressaltar.
É exatamente este quadro que vai se modificar consideravelmente
a partir da década de vinte, uma vez que começam a vir
à luz as primeiras críticas à perspectiva falocêntrica
da sexualidade proposta por Freud. Subjacente a tais críticas,
a contestação da ignorância da vagina pela menina
é proclamada. Vale ressaltar que tal contestação
tinha como pivô uma das trocas vislumbradas por Freud como necessárias
ao caminho da menina rumo à feminilidade, e que diria respeito
à troca de órgão do clitóris para a vagina.
Mas, se a porta de entrada para uma nova concepção psicanalítica
da feminilidade originou-se a partir da contestação da
ignorância da vagina pelas meninas2, logo a perspectiva de que
uma feminilidade primária orientaria os investimentos edípicos
infantis mais precoces tomou vulto. A abordagem kleiniana da sexualidade
se inscreve neste contexto, alterando o quadro referencial e conceitual
da sexualidade.
Assim, ao entenderem o Édipo como uma experiência vivida
pelo infans no próprio transcurso das fases consideradas por
Freud como prégenitais, os kleinianos não só operam
com o princípio de que as relações objetais emergem
precocemente, mas entendem-nas movidas por tendências heterossexuais
inatas que buscam objetos de satisfação. Deste modo, aquilo
que Freud considerou como um ordenador da sexualidade infantil –
o falo – ganhou, entre os anglo-saxões de orientação
kleiniana, o estatuto de um objeto parcial buscado precocemente pela
menina; no rastro desta idéia, o complexo de castração
perde seu peso, ganhando força as frustrações inevitavelmente
originadas pelo desmame e pelas privações vividas pela
criança em seus anseios de gratificação oral. Em
conseqüência, na ótica de Klein, não se tratará
mais para a menina em via de tornar-se mulher de ter que lidar como
uma “castração consumada”, mas de se defender
das angústias acionadas por seu sadismo em face das inevitáveis
frustrações a que se achará exposta3. Em conseqüência,
a feminilidade, no pensamento de Melanie Klein, vai ser entendida como
resultando das defesas utilizadas pela mulher em nome da neutralização
das inevitáveis angústias geradas pela inveja arcaica
dirigida à mãe e pelo sadismo precoce dirigido aos objetos
por esta contidos – incluindo-se aí o pênis do pai
–, defesas que levariam a mulher a lidar tanto com a maternidade
e com o filho quanto com o parceiro no coito, norteada pelas fantasias
infantis. Entendida sob esta ótica, a feminilidade no pensamento
kleiniano acaba dizendo respeito a um sentimento filial, que faz da
mulher um ser votado primordialmente a seu objeto materno; sentimento
filial que se opõe, claramente, neste aspecto, ao que foi indicado,
ainda que sutilmente, por Freud: o sentimento maternal da mulher feminina4.
Foi no início da década de cinqüenta que uma nova
abordagem acerca da feminilidade começou a ganhar relevância
no cenário teórico-clínico psicanalítico
a partir da entrada em cena do pensamento de Jacques Lacan. Nesse pensamento
ressurge, então, o privilégio à perspectiva falocêntrica
freudiana; com ela, a noção de castração
será considerada em seu vigor e radicalidade. Além disto,
entretanto, o pensamento de Lacan destaca a importância do Outro
– que pode ser aproximado do outro materno kleiniano – que
ocuparia um lugar-chave na estruturação fantasística,
nos tempos do Édipo e na própria constituição
do objeto causa do desejo, deixando seu rastro na posição
a ser adotada por qualquer sujeito no exercício da sexualidade.
Ainda em meados da década de cinqüenta, Lacan veio destacar
não só as diferentes categorias ou modalidades de falta
de objeto que, na constituição do sujeito, dariam acesso
tanto à constituição dos objetos da realidade para
a criança quanto à instauração da mãe
como Outro da demanda, mas que também responderiam pelo acesso
ao simbólico – registro indispensável à operação
da castração. Observe-se, no entanto, que, instituindo
o falo como o significante da falta e do desejo, Lacan resgata Freud,
mas também resgata Klein, ao trazer para a boca de cena uma nova
categoria conceitual – o desejo da mãe – que vai
servir de pano de fundo à operação central inerente
ao complexo edípico: a inscrição da lei, através
da ressignificação do desejo da mãe pela produção
da metáfora paterna. Entretanto, se a essa época o objetivo
central de Lacan é o de demonstrar o valor significante do falo
na constituição da dialética desejante de todo
e qualquer sujeito – valendo-se, para tanto, do desejo da mãe
em sua relação com a dialética da demanda –,
nem por isto a maternidade se coloca, em sua perspectiva, como o equivalente
da feminilidade. Bem ao contrário, indica de que modo o desejo
de ter o falo, mesmo norteando os circuitos da sexualidade feminina,
não responde integralmente pelo que entra em jogo para que a
posição feminina possa ser alcançada. Se no primeiro
momento de seu ensino, ou seja, ainda nos anos cinqüenta, é
a impossibilidade do simbólico em atestar à mulher uma
identidade feminina pela via do significante que é ressaltada,
no período seguinte, correspondente aos anos setenta, é
o gozo, resultante da posição sexuada derivada da subjetivação
não-toda da lógica fálica que preside a castração,
que vai servir de parâmetro para que nos fale de posição
feminina.
A Feminilidade e o “Fazer
do analista” A Feminilidade e o “Fazer
do analista”
entre os Freudianos: a Clínica do Édipo
O
que vamos aqui estar chamando de uma “clínica do Édipo”
corresponde ao tipo de fazer clínico que, durante o período
compreendido especialmente entre 1917 e 1930, caracterizou a prática
dos analistas mais próximos de Freud. Um olhar sobre a casuística
publicada neste período5 demonstra como o saber teórico-clínico
dos analistas avançou, tendo como bússola exatamente os
impasses da menina em seu desenvolvimento edípico. Mais do que
isto, o fazer clínico se desdobrou, particularmente nesse período
de pouco mais de uma década, articulado aos embaraços
gerados, nos analistas, pelos efeitos produzidos pelo complexo de castração
na vida de suas pacientes e pelo lamento, muitas vezes manifestado por
elas, de não terem nascido homens. Foram esses elementos que
fizeram do Édipo feminino, entre os freudianos, um herdeiro direto
da inveja do pênis, e da maternidade, o sinônimo da feminilidade
atingida, uma vez que, nela, um substituto simbólico do órgão
tão ansiado seria, então, conquistado.
Nesse período, o que era expresso na transferência –
o amor ou o ódio – era interpretado em estreita relação
aos sentimentos edípicos. Em conseqüência, o sexo
do analista pesava e tinha valor na direção do tratamento,
e mesmo no sucesso do projeto terapêutico da análise. A
este respeito, o relato freudiano do caso da jovem homossexual, em 1920,
pode ser tomado como lapidar, uma vez que é um caso capaz de
recorrentemente suscitar uma indagação: que razão
teria levado Freud a enviar essa paciente para uma analista mulher?
A alegação de Freud, ao longo do texto, é a de
que a transferência da jovem para com ele tinha algumas peculiaridades,
parecendo mesmo, em alguns momentos, não existir nenhuma transferência
ou nada similar a ela. Lembremos, entretanto, que no desenrolar do caso
alguns sonhos da jovem servem a Freud para indicar um impasse no campo
transferencial, pois, a seus olhos, eles revelavam o propósito
inconsciente da jovem em enganá-lo. Se hoje até podemos
pensar que “se deixar por ela enganar” seria uma alternativa
analiticamente válida, naquela época parecia não
sê-lo. O repúdio manifestado pela jovem em relação
aos homens fez com que Freud, como homem, julgasse ter esbarrado num
impasse transferencial intransponível, o que o levou a considerar
conveniente retirar-se de cena e encaminhar a jovem para uma analista
mulher.
Se o critério de enviar um paciente a um analista de sexo oposto,
ao se deparar com impasses transferenciais, não chegou a se constituir
numa prática corrente entre os analistas da época –
embora praticada por alguns6 e pelo próprio Freud, como vimos
–, entender a posição edípica a partir dos
dados transferenciais o era. Deste modo, a feminilidade se articula,
nessa clínica, ao Édipo positivo, e é este elemento
que principalmente orienta o fazer clínico dos analistas7.
Embora, já em 1920, Freud tivesse publicado sua última
e mais definitiva revisão da teoria pulsional e, em 1923, trazido
à luz o novo modelo que passaria a reger sua concepção
do aparelho psíquico, as análises empreendidas até
1930 se desdobram, quase que exclusivamente, em torno das questões
referidas ao complexo de castração. Apoiados principalmente
nas mais precoces elaborações de Freud sobre a histeria
– uma histeria que faria as mulheres se distanciarem dos homens,
esquivando-se ao sexo, ou com que só encontrassem prazeres eróticos
em zonas do corpo investidas pela libido na mais tenra infância,
o que daria ao erotismo por elas vivido um caráter auto-erótico
–, os analistas freudianos, sem se darem conta talvez, foram os
primeiros a destacar o campo das relações objetais como
bússola maior para avaliar o desenvolvimento psíquico
de seus pacientes. Não foi à toa que Abraham, em 1924,
produziu sua clássica teoria do desenvolvimento da libido, teoria
em que, aos objetivos pulsionais, corresponderiam não só
objetos de satisfação, mas a forma de amar esses objetos.
Se estas questões não são sem conseqüência,
vamos a elas...
A
Feminilidade e o Fazer do Analista
entre os Anglo-Saxões: a Clínica das Angústias
Precoces
Acabamos de ver de que modo as perspectivas supostas em jogo no caminho
da menina rumo à feminilidade, e desvendadas pelo que se dava
a ouvir principalmente na histeria, reverberaram na clínica,
acabando por orientar a escuta dos analistas freudianos. Nossa proposta
agora é a de demonstrar como a introdução de novos
paradigmas conceituais na abordagem da sexualidade – a afânise
e o sadismo – acabou fazendo da mãe uma figura tão
primordial em relação ao desenvolvimento do psiquismo
que ela acabou por determinar o tipo de fazer clínico que viria,
grosso modo, a caracterizar a prática dos anglo-saxões.
Assim, se no que chamamos anteriormente de uma clínica do Édipo
foi o período fálico do desenvolvimento libidinal que
ganhou relevância, tanto através da noção
de inveja do pênis quanto do conceito de castração
– o que fez com que, aos olhos dos analistas freudianos, os períodos
pré-genitais da libido fossem entendidos apenas como responsáveis
por fixações no curso desta última, capazes de
emperrar ou dificultar a identificação sexual resultante
do Édipo e as escolhas objetais dela decorrentes –, o que
vamos começar a demonstrar é de que modo reverberou na
clínica dos anglo-saxões a modificação substancial
por eles emprestada a esses referenciais.
No que diz respeito à transferência e a seu uso no dispositivo
clínico, por exemplo, em função do privilégio
concedido pelos kleinianos ao precoce funcionamento fantasístico
do psiquismo8, qualquer expressão no setting passa a ser entendida
como uma manifestação de conteúdos mentais. Vale,
entretanto, fazer aqui uma observação: sabemos que o pensamento
kleiniano fez escola e que isto, entretanto, não o impediu de
sofrer dissidências, fazendo com que o caminho aberto por Klein,
mesmo se mostrando clínica e teoricamente produtivo, sofresse
algumas modificações. Nesta esteira, alguns de seus herdeiros
acabaram inaugurando uma corrente própria de pensamento; entendemos
ter sido este o caso de Winnicott. Se, para este, pareceu inaceitável
a proposição kleiniana de que o ego infantil seria capaz,
logo de saída, de defensivamente lidar com os primeiros desconfortos,
nem por isto desprezou o que foi por Klein proposto em relação
ao sadismo9 e, muito menos, em relação ao que estaria
em jogo na posição depressiva. Em função
disto, Winnicott também não desprezou os efeitos transferenciais
produzidos, no analista, pela expressão da “realidade interna”
do paciente no setting analítico.
O resultado dessas duas posições – a de Klein e
a de Winnicott – na referência à transferência
é que, para a primeira, a mãe funciona como fundo, servindo
ao analista para interpretar o que está em jogo nos movimentos
pulsionais de seus pacientes; para o segundo, diferentemente, a mãe
funciona como figura, sustentando não a interpretação,
mas o lugar do analista em sua função de recuperar o que
impediu ou entravou a saúde psíquica de seu paciente.
Ainda que ao mencionarmos tais aspectos pareçamos nos distanciar
do foco principal de nosso olhar aqui – a relação
entre as concepções de feminilidade e o fazer clínico
do analista –, isto se deve ao fato de que, em Klein, a idéia
de castração centrada no desmame ganhou peso e relevância,
sendo entendidos, então, os estágios mais precoces do
desenvolvimento libidinal como fundamentais ao exercício da sexualidade
adulta10. Diante desta perspectiva teórica, para o analista se
colocariam duas alternativas a delinear o horizonte da análise:
de um lado, uma dimensão “reparadora”, presente no
pensamento kleiniano mais clássico, e referida, no que diz respeito
às mulheres, à possibilidade de devolver fantasisticamente
à mãe, através da experiência da maternidade,
aquilo que um dia lhe foi roubado; de outro, uma dimensão “restauradora”,
presente em Winnicott e em alguns de seus herdeiros11, que tem por objetivo
recuperar determinadas formas de funcionamento psíquico não
utilizadas em função de angústias muito precocemente
vividas.
Ainda que a clínica dos kleinianos mais clássicos e a
dos herdeiros de Winnicott em muito se diferencie, vale aqui destacar
o que lhes serve de solo comum: a idéia de que os destinos da
sexualidade adulta, ou de seu exercício, seriam tributários
de vivências arcaicas originadas da relação com
o outro materno. Se a qualidade da relação entabulada
com a mãe pesa mais para os winnicottianos do que para os kleinianos
– fazendo do modelo clínico dos primeiros um modelo mais
ambientalista, em contraposição a um modelo mais mentalista
dos segundos –, ainda assim permanece, entre eles, um elo comum
que os distingue da abordagem freudiana da sexualidade e da feminilidade.
É esse ponto que deve ser observado aqui como fundamental à
nossa argumentação: há subjacente às duas
perspectivas uma clínica orientada pela idéia de que haveria
angústias precocemente vividas pela menina, no contexto de um
Édipo também precoce em que pesam sobremaneira as relações
entabuladas com o outro materno. Dito de uma outra maneira: para o universo
anglo-saxão, as vicissitudes da sexualidade têm sua origem
nas relações arcaicas com o objeto materno.
A
Feminilidade e o Fazer do Analista entre os Lacanianos: a Clínica
do Real
Acabamos
de destacar quanto predominava, na perspectiva anglo-saxã da
sexualidade, a idéia de que a adoção de uma posição
heterossexual na idade adulta seria o endosso ou o aval de uma heterossexualidade
na origem, que correria os riscos de ser “desviada” pela
angústia e pelos mecanismos defensivos do ego. Além disto,
vimos também que a ênfase freudiana na subjetivação
do sexo próprio – uma ênfase que percorreu inúmeros
textos da década de vinte e que se pautava na primazia do falo
a reger a ordenação da sexualidade –, foi radicalmente
redimensionada na abordagem dos anglo-saxões, que passaram a
creditar às fantasias precoces o efeito de agenciar os percalços
e as angústias derivadas, no caso das mulheres, do anseio feminino
de se apropriar do que era, então, considerado seu natural objeto
de investimento libidinal: o pênis. A castração,
com isto, deixou de ser tomada como um fator determinante na assunção
da sexualidade e na escolha sexual derivada do Édipo, passando
a ocupar seu lugar, no cenário teóricoclínico dos
anglo-saxões, tanto a noção de sadismo –
e com ele a noção castradora do infans na sua relação
e no uso dos primeiros objetos – quanto a de afânise, articulada,
genericamente, ao medo fantasístico do desaparecimento em face
do poder de retaliação do outro. Podemos, com isto, destacar
que os anglo-saxões acabaram trazendo para o primeiro plano de
suas considerações um aspecto pouco privilegiado por Freud:
o peso das primeiras relações do infans com o objeto materno.
Ainda que se objete que esse outro materno estava, sim, presente em
Freud, especialmente através da noção de “ação
específica” e de primeiro sedutor em sua função
de erogeneizador do corpo, vale destacar que esse era também
um outro que se enevoava em face do autoerotismo predominante nas chamadas
fases pré-genitais.
Retomar estas questões, neste momento, tem um objetivo: mapear
o plano de referências que, em nossa ótica, balizará
Lacan em sua abordagem da sexualidade, tendo em vista que, se de um
lado, é a perspectiva falocêntrica freudiana que será
privilegiada – e, com ela, a noção de castração
–, de outro, há também ênfase na dimensão
desejante do Outro materno – dimensão que objetaliza a
posição da criança na referência à
mãe, e que faz desta última a detentora de uma potência
para dar ou recusar o que lhe é demandado. Deste modo, a ocupação,
pela criança, da falta de que a mãe se vê portadora,
abre-lhe as portas para colocar-se, frente a esta, como objeto de seu
suposto gozo. Por outro lado, suportar-se nessa posição
de objeto tenderá a se tornar insustentável para a criança,
situação da qual deverá ser libertada pela entrada
em cena do pai interditor. Observe-se, nesse cenário, a concepção
de um Édipo que se inicia precocemente, de vez que, de saída,
a relação da criança com a mãe, longe de
estabelecer-se como dual, se constrói na dialética intermediada
pelo falo – significante da falta e do desejo.
Entendemos ser em função dessa dupla ancoragem que a feminilidade
não será definida por Lacan nem em função
da maternidade, nem em função da escolha objetal, mas
como dependente da modalidade de gozo derivada da subjetivação
da lei da castração. Na verdade, em lugar do termo feminilidade,
Lacan preferirá usar a expressão “posição
feminina”, uma posição que pode, até, ser
ocupada pelos homens – ao menos por alguns12.
Sabemos, entretanto, que essas afirmativas de Lacan acerca da posição
feminina derivam de um longo percurso elaborativo sobre a temática
da sexualidade, percurso que se inicia na década de cinqüenta
e que, ao longo de mais de vinte anos, desliza de uma ênfase no
simbólico para o privilégio concedido ao real. Fazer esta
marcação aqui tem importância, na medida em que
tanto a categoria de “desejo da mãe” quanto a noção
de “metáfora paterna” – cruciais na formalização
do percurso edípico por ele empreendida – derivam da primeira
etapa de seu ensino13. Foi somente a partir da década de setenta,
ou no final dos anos sessenta, que o real e o gozo se impuseram no cenário
teórico-clínico lacaniano como novos paradigmas conceituais,
cruciais à teorização e à prática
clínica de seus discípulos. Vale ressaltar, contudo, que
o segundo momento do ensino de Lacan não apaga o primeiro, evidenciando-se
tal fato na simples constatação de que, em sua ótica,
a sexualização da diferença anatômica se
produz como derivada da interdição pelo pai – em
sua função de privador, tanto da mãe como da criança
–, do gozo absoluto ou gozo do Outro.
Se, em linhas gerais, é até possível inscrever
Lacan como herdeiro tanto de Freud quanto de Klein, fica difícil,
no entanto, aproximar sua práxis – e a de seus discípulos
– de qualquer práxis ou técnica analítica
antes empregada em nosso campo. Assim, se a clínica lacaniana
não se assemelha à clínica de Freud e dos freudianos,
em relação à clínica de Klein e de seus
descendentes anglo-saxões pode-se dizer que ela acaba por tomar
grande distância. As razões de tal distância não
são difíceis de serem discernidas, uma vez que o modelo
teórico proposto por Klein especialmente, apesar de sua riqueza,
não comportava elementos que a Lacan pareciam fundamentais; dentre
eles, a dimensão invocante da fala em seu registro simbólico
e o fato de o investimento libidinal ser tributário do recobrimento
imaginário de uma falta constituinte, falta real. Seria então
essa falta que reverberaria tanto na dimensão imaginária
da experiência do sujeito quanto no seu posicionamento subjetivo
em face do simbólico. Se esses elementos se situam como cruciais
no pensamento lacaniano, eles tiram definitivamente de cena da prática,
neste campo, qualquer ênfase nos mecanismos defensivos do ego
e qualquer idéia de que o objeto, um dia roubado, possa ser devolvido
ao primeiro Outro. Aqui, com Lacan, é acima de tudo com um Outro
castrado que o sujeito tem que se confrontar.
Por outro lado, ao afirmarmos que a clínica lacaniana também
não se assemelha à clínica freudiana, levamos em
conta, para tanto, as sucessivas ênfases que Lacan foi imprimindo
a seu ensino. Assim, se até podemos considerar que a clínica
lacaniana teve como ponto de partida a escuta emprestada por Freud a
seus pacientes, a operatividade dessa escuta logo deixou de se movimentar,
como o era em Freud, em busca do sentido. Diferentemente de Freud, foi
o não-sentido, em seu parentesco com o real, que passou a orientar
cada vez mais a clínica dos lacanianos. Não-sentido que,
articulado ao irrepresentável, faz com que não mais seja
com o impasse da castração que uma análise esbarra
em seus confins, mas com o que, para além da castração,
se põe como causa do desejo: o objeto enquanto pura falta14.
Um manejo transferencial que toma distância das vias imaginárias
para privilegiar o simbólico e, em função disto,
propiciar a travessia do real da fantasia é aqui a marca maior
de um fazer clínico, que encontra na perspectiva de apenas interpretar
na transferência seu traço distintivo em relação
às demais escolas.
Sobre a importância da posição ocupada pela mulher
e pela questão da feminilidade na construção do
saber teórico-clínico psicanalítico, vale pensar
ainda que aquilo a que Lacan pôde chegar em suas elaborações
sobre a posição feminina traz em seu bojo uma estreita
relação da mulher com o real, especialmente em relação
à posição a ser por ela adotada na parelha sexual
– a de semblante de objeto da fantasia do homem15.
Considerações
Finais: sobre a Relação entre o Sofrimento e a Escuta
Mencionamos, já de saída, no título que demos a
este artigo, a relação que percebemos entre a escuta emprestada
pelo analista aos lamentos e sofrimentos do sujeito-analisando e a concepção
psicanalítica sobre a feminilidade que o orienta em termos teóricos.
Ainda que se possa genericamente ponderar que, ao lado da criança
e do louco, a mulher se constituiu em apenas um dos pilares da construção
do saber teórico-clínico psicanalítico, nossa intenção
foi aqui a de demarcar e salientar a importância desse pilar.
Acompanhando a História da Psicanálise – referendada
aqui pela casuística publicada que nos serviu de guia –,
o que se observa, sem grande esforço, é que a forma de
os analistas abordarem o sofrimento de suas analisandas sempre esteve
intimamente conectada com o modo com que concebiam a origem de seus
sofrimentos, articulados, por sua vez, à dificuldade em atingir
o que seria da ordem da feminilidade ou da posição feminina.
Talvez não pudesse mesmo ser diferente; afinal, fica difícil
imaginar a produtividade de uma intervenção clínica
que não esteja ancorada em um referencial teórico e conceitual.
Entretanto, se formos levantando o que esteve em jogo, enquanto sofrimento,
para as mulheres que procuraram ajuda psicanalítica ao longo
dos últimos cem anos, verificaremos que o que as mulheres diziam
a seus analistas não era muito diferente entre si, embora a forma
de os analistas ouvirem e intervirem em relação a essas
falas o fosse. Considerar, então, que nossa escuta nunca é
desavisada toma aqui o seu sentido.
Em função disto, talvez possamos pensar que acreditar
num modelo teórico e, conseqüentemente, nas concepções
forjadas no interior de sua grade conceitual coincide com o ponto em
que esse modelo pode se mostrar operativo do ponto de vista clínico,
parecendo não haver outra saída possível para que
a clínica possa ser exercida. Assim, qualquer tentação
de poder prescindir da teoria ou de fazer a teoria à sua própria
medida não deixa de ser problemática para um analista,
pois acabaria sendo com a sua própria intuição
sentimentalista e obscura que ele, enfim, interviria junto a seu analisando16.
Deste modo, se os manejos transferenciais tributários dos três
modelos teóricos que examinamos como regendo a orientação
clínica em nosso campo e sustentando a escuta dos analistas manifestam
a distinção existente entre eles na própria referência
ao que seria da ordem da feminilidade, talvez não nos reste mesmo
outra alternativa senão a de entender essa diferença como
derivada daquilo que é inerente ao campo da psicanálise,
cuja transmissão tem como via preferencial aquilo que é
a mola de nossa própria atividade como clínicos: a transferência.
Keywords
Feminnity – Psychoanalysis – Freud – Klein –
Lacan
Abstract Following the psychoanalytics conceptions about femininity, this article
tries to evidence the intrinsic relation between the conceptions that
mark the freudian’s, the anglo-saxon’s and the lacanian’s
thought, in relation to this thematic and the tecnical work of the psychoanalyst.
1 Ver,
a este respeito, Estudos sobre a histeria (Freud & Breuer, 1893).
2 A este respeito, ver especialmente Muller (1925) e Horney (1922, 1925
e 1933).
3 Sobre este ponto, ver Klein (1932).
4 Vale lembrar, sobre isto, que Freud (1933) considerou que “um
casamento não se torna seguro se a esposa não conseguir
tornar seu marido também seu filho, e agir com relação
a ele como uma mãe” (p.164).
5 A este respeito, ver Ophuijsen (1917), Stacke (1921), Anna Freud (1922),
Deutsch (1925), Lampl De Groot (1927) e Brunswick (1928).
6 Ophuijsen (1917), por exemplo, relata o caso de uma paciente cuja
análise sofreu uma precoce interrupção, em função
de questões transferenciais. Em 1927, Lampl de Groot relata seu
atendimento a esta mesma paciente, servindo-lhe o fato desta jovem ter
sido analisada anteriormente por um analista homem para avaliar o plano
em que se encontrava o desenvolvimento edípico da moça.
7 Para Lampl de Groot (1927), sua paciente, apesar de seus esforços,
teria ficado longe do que entendia como uma posição feminina,
objetivo maior de sua empreitada como analista.
8 A este respeito, ver, por exemplo, Isaacs (1943) e Heimann (1943).
9 Tomado especialmente em sua vertente de ‘uso’ do objeto,
que se expressaria nas fantasias onipotentes de controle do mesmo, implicando,
assim, na possibilidade de sua ‘destruição’,
e que faria da noção de ‘mãe suficientemente
boa’ (dentre outras coisas, uma mãe capaz de ‘sobreviver’
aos ataques sádicos do infans) o pivô de uma adequada constituição
do self.
10 O caso relatado por Joan Rivière (1929) ilustra claramente
esta perspectiva. Também o artigo de Jones (1927) se constrói
a partir desta perspectiva. Ao lado destes, remetemos o leitor para
própria Klein (1932).
11 Sobre este ponto, ver Khan (1971), que parte de Winnicott (1971)
12 Ver, a este respeito, Lacan (1972).
13 A este respeito, ver Seminário 4 (1956-57) e Seminário
5 (1957-58).
14 Uma ilustração deste ponto pode ser lida em Rabinovich
(1988).
15 Para Lacan (1972), o homem se relaciona em seu gozo não como
uma mulher, mas com o a, objeto de sua fantasia (p.108); ao abordar
uma mulher, um homem abordaria, então, a causa de seu desejo.
16 Ver, sobre isto, André de Souza (2000).
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