O Círculo Brasileiro de Psicanálise define-se como uma Federação de Sociedades Psicanalíticas, cujos objetivos estão estabelecidos em sua carta de princípios:
Carta de Princípios
A Psicanálise é a ciência do Inconsciente, entendido no sentido do texto freudiano, que se marca por sua radicalidade e onde se desenvolve uma metodologia à investigação deste objeto. Isto nos coloca no espaço do inacabamento. É inseparável a articulação da teoria e da prática na abordagem da questão Psicanalítica. O objeto específico da Psicanálise, o Inconsciente, define a natureza da Instituição Psicanalítica, a elaboração da teoria, da técnica e da produção científica.
A Instituição Psicanalítica tem sua especificidade na relação teoria-transferência. Na Instituição Psicanalítica a produção científica se faz sobre os restos inanalizáveis, fazendo destes traços secretos uma condição de formação permanente. Este processo desenvolve-se através do convívio com os pares e pela criação de um espaço de palavra sobre o que permanece não dito. Nesta posição, a Instituição Psicanalítica não propicia a fixação de Identificações imaginárias. A Instituição Psicanalítica testemunha a permanente passagem para o "torna-se analista", que se traduz na possibilidade de dar lugar para o inacabamento, através da produção teórica, da prática clínica e supervisão. (Recife, 10 de Setembro de 1992)
Da Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras ao Círculo Brasileiro de Psicanálise
Criada por Sigmund Freud e seus colaboradores, em 1902, a Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras foi o primeiro círculo da história do movimento psicanalítico, e em 1908 tornou-se a Wiener Psychoanalytische Vereinung (WPV), a pioneira das sociedades psicanalíticas.
Em 1938, a Áustria, até então república independente, foi anexada pela Alemanha do Terceiro Reich. Seguiram-se duras perseguições aos judeus. Freud, cuja obra já havia sido queimada em praça pública pelos nazistas, foi obrigado a deixar sua amada Viena para exilar-se em Londres.
O Conde Igor Caruso, vienense de ascendência russo-italiana, foi um dos poucos psicanalistas que, permanecendo em Viena, mantiveram a chama do saber freudiano e, após a II Guerra Mundial, reergueram a WPV.
Professor da Universidade de Viena, desde 1934, Caruso organizava seminários com o objetivo de "repensar Freud a partir das origens" pois sua proposta de repensar Freud era absolutamente incompatível com os objetivos uniformizantes da formação da WPV (futura IPA -International Psychoanalytical Association), cuja orientação lhe parecia excessivamente médica e materialista.
Por isso, em 1947, Caruso se separou da WPV, para criar o primeiro Círculo Vienense de Psicologia Profunda. Mesmo continuando a ser freudiano, como mais tarde, Jacques Lacan, ele pretendia dar à Psicanálise uma orientação menos médica e mais filosófica. Como seus seminários se tornaram muito procurados, acabaram por se constituir no Círculo de Estudos de Psicologia Profunda de Viena (WATP - WIENER ARBEITSKREISE FUR TIEFEN PSYCHOLOGIE), ainda em 1947.
Nasceram outros círculos na Áustria e posteriormente em outros países, mas ele próprio criticava um possível "grupo carusiano", insistindo que a psicanálise está em Freud.
Caruso sempre valorizou as divergências imprescindíveis ao processo de criação intelectual e seu maior legado é a fidelidade a Freud e a liberdade para que cada pessoa faça seu próprio trajeto intelectual.
Além do intenso trabalho clínico e de difusão das idéias de Freud que desenvolveu em Viena, Igor Caruso também difundiu a psicanálise pelo continente Íbero-Americano. Além de ter participado na fundação do Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda, Caruso participou na criação de instituições psicanalíticas na Colombia, México e Argentina.
Em 1956, ele fez a primeira de uma série de visitas ao Brasil, convidado por um grupo de brasileiros por ele analisados (Malomar Lund Edelweiss, Francisco Vidal, Gerda Kronfeld e Sigfried Kronfeld do Rio Grande do Sul) e que freqüentavam seus seminários em Viena, para ministrar seminários, supervisões e análises. Dessa visita resultou a fundação no Rio Grande do Sul do Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda.
O Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda, que depois veio a se chamar Círculo Brasileiro de Psicanálise, foi fundado em 26 de setembro de 1956, no Instituto de Psicologia de Pelotas como forma de coroar um movimento psicanalítico que se desenvolvia naquela cidade e em Porto Alegre.
A ata de fundação recebeu as assinaturas de: Callvin Barcellos Xavier, Igor Caruso, Madre Joana da Cruz, Siegfried Kronfeld, Dirceu Lopes de Souza, Hilda Maria, Maria Marques Ripoll, Maria Augusta Araújo, Arzelina Moralles, Maria Margarete Unger, Alice Flora Lorea, Malomar Lund Edelweiss, Franchelin Cliné Leite, Gerda Kronfeld, Francisco Dias da Costa Vidal, Walney J. Harmmos, Evangelista Torres de Torres, Cecília Brusque Isaacsson, Aurélia Xavier Oliveira, Idalina Arlette Corrêa, Francisca de Lourdes dos Anjos, Maria Lund.
Desde então Caruso voltou várias vezes ao Brasil, fundando outros Círculos. Em 1963, Malomar funda outro grupo: o Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda de Minas Gerais.
Desde então Caruso voltou várias vezes ao Brasil, fundando outros Círculos. Em 1963, Malomar funda outro grupo: o Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda de Minas Gerais.
Na década de 70 só existiam sociedades psicanalíticas no Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre.
Em 1970 o Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda filia-se à Federação Internacional de Sociedades Psicanalíticas, com sede em Viena e no ano seguinte muda seu nome para Círculo Brasileiro de Psicanálise (CBP) e as suas sociedades integrantes adotam, daí em diante, a denominação de Círculo Psicanalítico acrescido do nome do estado em que suas atividades eram desenvolvidas.
Além dos já existentes, ao longo dos anos seguiu-se a criação de novas sociedades abrangendo vários estados. Hoje o Círculo Brasileiro de Psicanálise engloba seis sociedades em seis estados: o Círculo Brasileiro de Psicanálise - Seção Rio de Janeiro (CBP-RJ), o Círculo Psicanalítico da Bahia (CPB), o Círculo Psicanalítico de Minas Gerais (CPMG), o Círculo Psicanalítico de Pernambuco (CPP), o Círculo Psicanalítico do Rio Grande do Sul (CPRS) e o Círculo Psicanalítico de Sergipe (CPS).
. O intercâmbio entre os sócios se faz por um congresso realizado a cada dois anos e sediado por uma das instituições do CBP.
Além das publicações de cada sociedade, o CBP publica anualmente a revista Estudos de Psicanálise, que hoje conta com 30 números editados e lançará neste ano de 2008 o vol. 31. Uma primeira edição do Índice Remissivo da Revista Estudos de Psicanálise foi lançado em 1996, resumindo os primeiros 18 volumes da revista e neste ano estamos editando uma segunda edição que resume os volumes 19 a 30.
Articulação das Entidades Psicanalíticas Brasileiras
O CBP participa como convocante do movimento que se denomina Articulação das Entidades Psicanalíticas Brasileiras.
Este movimento surge em resposta a uma proposta de regulamentação da psicanálise no Brasil, fundada nos princípios teóricos e práticos de uma sociedade que se denomina Ortodoxa e de um suposto Conselho Federal de Psicanálise Clínica, por ela estabelecido sem nenhum fundamento legal.
A primeira reunião da Articulação ocorreu em junho de 2000 e reuniu 65 entidades psicanalíticas que se associam e formulam o 1º Manifesto das Entidades Brasileiras de Psicanálise e mais 10 outras entidades subscrevem (CFP, CFM, Associação Brasileira de Psiquiatria, PUC-SP, UFRS, UFSE...)
Em 30/10/2002 a Justiça Federal nega pedido desta Sociedade para praticar o ensino da psicanálise, anulando sua possibilidade de pleitear a regulamentação.
Mas o movimento continua, pois a discussão sobre regulação e/ou regulamentação prossegue, visando novas tentativas que surgem.
Em Março de 2004 é lançado o 2º Manifesto das Entidades Brasileiras de Psicanálise.