Resumo:
Clinicar e teorizar sobre os atendimentos sempre foram formas
de trabalhar os impasses que a clínica coloca a nós psicanalistas,
implicando não só um aprofundamento dos conceitos como
também uma forma de questionar a nossa práxis. Já
há algum tempo, os analistas têm sido interpelados por
clientes cuja psicopatologia dissimula, por baixo de uma aparente normalidade
passível de tratamento psicanalítico, uma dificuldade
em se adequar ao dispositivo da análise, evidenciada por um não-enquadramento
às estruturas clínicas tidas como padrão.
A psicanálise, ao priorizar o inconsciente, possibilita uma leitura
diferenciada do sintoma, num evidente contraponto ao saber médico.
O cliente queixa, o médico decifra o sintoma através das
evidências clínicas, enquadra num diagnóstico a
doença e utiliza a propedêutica adequada. O sintoma psicanalítico
necessita ser falado pelo próprio paciente – que o traz
com uma certa interpretação do seu mal-estar –,
deve ser endereçado ao analista e, principalmente, constituir-se
na experiência analítica. As entrevistas preliminares se
colocam, para o analista, como um meio de fazer um diagnóstico
estrutural preliminar que será confirmado, tempos depois, na
transferência. Para o analisando, implicam uma passagem subjetiva,
da pessoa que faz a queixa inicial ao sujeito que entra em análise.
Todo este procedimento teórico tem sido posto em xeque por uma
categoria de clientes que procura os psicanalistas. Tais clientes, freqüentemente,
expressam desencanto perante a realidade que vivem, evidenciado por
um esvaziamento de questionamento a respeito de si e do mundo, e trazem
sintomas cada vez mais corporais, desprovidos de significação
e sob a forma de distúrbios somáticos em graus variados,
agravados por uma pobreza de simbolização devido ao enorme
exacerbamento do imaginário. As palavras têm um significado
fixo. Se interpelados no sentido da homofonia ou se remetidos à
questão metafórica ou metonímica, dão a
impressão de que batem num muro invisível ou então
escorregam em respostas chavões do tipo “não sei”
ou “lá vem você de novo com esse papo”. Suas
ligações afetivas e sociais são instáveis
e pouco freqüentes, revelando uma tendência de “cola”
quando se relacionam com alguém. Seu tempo existencial e verbal
é o presente.
O passado está esquecido e o futuro parece não lhes pertencer.
A vida é um eterno aqui-e-agora. Entre outros fatores que os
caracterizam, são clientes que utilizam medicação
psiquiátrica, não faltam jamais às sessões
e pagam regularmente. Entretanto, algo falha. Eles não entram
no dispositivo analítico, não associam livremente, sonham
muito pouco e sua transferência varia do “posso te abandonar
a qualquer momento” ao “eu não posso viver sem você”,
numa repetição dos laços afetivos e sociais. Seu
diagnóstico estrutural fica em suspenso pois traços das
várias estruturas aparecem, dificultando mais ainda o trabalho
do analista.
Se como pré-requisito a um candidato a análise, é
preciso que ele ao menos procure um sentido em meio ao nonsense do sintoma,
ou que tenha dúvidas das certezas inabaláveis e queira
saber de si, o que elaborar, ou como pode trabalhar um analista quando
o cliente se apresenta como acima descrito? Em se tratando de um diagnóstico
estrutural, incluir-se-iam esses clientes em qual estrutura?
Para ilustrar as dificuldades encontradas na clínica psicanalítica
de nossos dias, vamos utilizar o caso clínico de Maria das Dores.
A partir daí, delimitamos em algumas linhas um pouco de sua complexa
história e seus efeitos transferenciais. Maria é aquela
figura médica poliqueixosa, seu corpo produz muitas dores. Seu
discurso é monossilábico, grudado no sentido das palavras.
Possui poucas lembranças do passado e sua fala se referencia
quase sempre aos acontecimentos do seu cotidiano, mas isento de qualquer
crítica que a faça se implicar em algo. Falar para ela
é um problema, pois “falar dói” e a faz ter
sintomas que variam de dor na garganta a rouquidão, dor de cabeça,
potencializada por uma dor no peito que a leva a pensar, algumas vezes,
em se esfaquear para ver se melhora.
Trabalhar com ela é um constante desafio. A sensação
que se tem é de que ela suga as energias do analista, testa a
sua paciência e além de tudo põe à prova
o seu saber, porque chegar a um diagnóstico estrutural é
complicado. Ora pode-se considerá-la psicótica, por sua
fala colada no significante, pobreza de simbolização e
uma transferência erotizada, ora uma histérica decidida
que demanda uma suplência de mãe por tê-la perdido
ainda muito pequena, alguém que dê fim à sucessão
de abandonos ocorridos ao longo de sua vida. Como sua questão
corporal é hipertrofiada, trabalhar a palavra e seus significados
não surte efeito. Ela não se escuta e também não
escuta as intervenções do analista.
Seu afeto contumaz é a raiva e a irritação com
tudo e com todos. A figura paterna aparece deteriorada, apresentando-se
como temível e sobretudo destrutiva. A irmã paterna que
assumiu o lugar da mãe falecida, é uma figura que a faz
relembrar surras com varinha de cipó em que chorar ou fazer escândalo
era proibido. Em algumas ocasiões, Maria retirou a pele do dedo
mínimo do pé com alicate, justamente após sessões
em que ela se sentiu muito angustiada.
Enfim, Das Dores pôs o analista à procura de teorizações
que possam fazer entender a profusão de sintomas apresentados
e delimitar, dessa forma, a sua estrutura, propiciando assim um melhor
manejo clínico.
Em “Estudos sobre a Histeria”, Freud relata o caso clínico
de Cäcilie M. Seu diagnóstico inicial era de psicose histérica,
apresentando um quadro de dores persistentes e um sentimento de ter
sua vida fragmentada. Ele descreve desta maneira uma das suas crises
histéricas:
Surgiu
primeiro, enquanto a paciente gozava da melhor saúde, uma disposição
de ânimo patológica, com um colorido particular que ela
regularmente interpretava mal e atribuía a algum fato das últimas
horas. A seguir, acompanhados de crescente nebulosidade da consciência,
sobrevieram sintomas histéricos: alucinações, dores,
espasmos e longos discursos declamatórios. Finalmente, esses
sintomas foram seguidos pelo surgimento, numa forma alucinatória,
de uma experiência passada que tornava possível explicar
a sua disposição de espírito inicial e o que determinara
os sintomas do seu acesso presente... (Freud, 1895: 227).
Nos
exemplos em que Freud conseguia que a paciente, ao reproduzir sua dor
facial, chegasse à sua causalidade psíquica através
da evocação da cena traumática, um insulto do marido
que ela sentiu como uma bofetada no rosto, ele justificava o sintoma
como simbolização por meio de expressão verbal,
sendo portanto a dor psíquica modificada em dor somática.
Freud relega o mecanismo de simbolização a uma importância
secundária quando Cäcilie tem uma dor lancinante no pé
que a impossibilita de andar, sendo relacionada ao contato com o médico
que a ajudou a caminhar, porque ela pensou naquele instante que seu
comportamento talvez não fosse apropriado. Portanto, a manifestação
somática foi transformada em dor psíquica.
Fica evidente a demarcação entre as duas formas de somatização:
uma de origem psíquica, que incide sobre o corpo, mas usa o mecanismo
da simbolização, levando à histeria de conversão;
outra de origem somática, que afetaria o psíquico através
da descarga direta da angústia, ou seja, sem a mediação
do simbólico, dando origem a sintomas predominantemente somáticos,
sendo característica da neurose atual.
A diferença entre histeria de conversão e neurose atual
se dá através da maneira como a excitação
psíquica é processada, pois ambas têm origem sexual,
e também através do fator temporal. No caso da histeria,
haveria uma ligação com os conflitos sexuais da infância
que remetem a um corpo pulsional, imaginário, utilizando o recalcamento
como mecanismo de defesa. Na neurose atual, os sintomas, por não
serem mediados pelo simbólico, não se constituem como
retorno do recalcado, se apresentam no corpo, no momento presente. Ora,
por tudo o que foi dito acima, como Cäcilie poderia estar ao mesmo
tempo diagnosticada como psicose histérica, histeria de conversão
e neurose de angústia, se essas são estruturas distintas
que utilizam mecanismos de defesa diferentes?
“Estudos sobre a Histeria” está repleto de descrições
de delírios e alucinações os quais Freud denominava
“confusões alucinatórias”, podendo... “ser
considerado como uma psicose aguda (servindo como equivalente de um
acesso) (Freud, 1895:142). Poder-se-ia deduzir uma dificuldade de Freud
em delimitar o que era uma histeria, o que era uma psicose, por se estar
num momento inicial de sua obra. Mas o que pensar quando se depara já
em 1931, no texto “Sexualidade Feminina”, com uma ligação
entre a histeria e o germe da paranóia?
Entre estas acha-se a suspeita de que essa fase de ligação
com a mãe está especialmente relacionada à etiologia
da histeria, o que não é de surpreender quando refletimos
que tanto a fase quanto a neurose são caracteristicamente femininas,
e, ademais, que nessa dependência da mãe encontramos o
germe da paranóia posterior nas mulheres (Freud, 1931:261).
O
analista, ao se deparar com um quadro clínico com ausência
de sonhos e fantasias, associada ao pouco saber se si mesmo, pode levantar
a hipótese de uma estrutura em que o recalcamento não
está operando. Na neurose, o mecanismo de defesa é o recalcamento,
que mantém preservado o universo simbólico do sujeito
assim com também o alimenta. Se existe o fracasso do recalcamento,
há um bloqueio da vida fantasmática do sujeito, caracterizando
uma forma de psicopatologia mais grave do que a neurose. Apressadamente
se poderia concluir que se trata de um quadro de psicose; porém,
Flávio C. Ferraz acena com uma nova possibilidade ao escrever
sobre a normopatia, quadro clínico que possui as seguintes características:
Empobrecimento
ou, até mesmo, a supressão da vida fantasmática,
seja pela via do sonho, seja pela via do fantasiar. Do mesmo modo, o
mundo interno encontra-se desinvestido; o sujeito pouco ou nada se refere
a ele, demonstra baixa capacidade de introspecção e seu
discurso refere-se quase que exclusivamente a objetos concretos do mundo
exterior... ocorre uma cisão entre a realidade interna e a realidade
externa, a primeira sendo suprimida e a segunda sobre-investida de modo
compensatório. O sujeito perde o contato consigo mesmo, passando
a funcionar à moda de um robô (Ferraz, 2002:48).
O
fato é que muitas das dificuldades que Ferraz descreve como normopatia
se assemelham ao que Joyce McDougall classificou como analisando-robôs
ou antianalisandos. Ambos apontam para uma obstrução no
acesso para o seu mundo subjetivo, o qual é negado ao analista,
mas que se encontra obstruído para o próprio sujeito na
relação de si para consigo, e uma grande falta de afetividade,
devido a uma falha na constituição da identidade subjetiva,
considerando-a, portanto, como uma patologia não-neurótica.
Numa busca de melhor conceitualizar a problemática de Maria da
Dores, encontramos no livro Teatros do Corpo, de Joyce McDougall, o
seu relato de “ter analisado pessoas que são polissomatizantes
desde a mais tenra infância. Não se trata aqui de histeria
clássica. Muito freqüentemente são rotulados de histéricos
os indivíduos que sofrem de seqüelas de uma carência
afetiva precoce e cujos gritos de aflição procuram chamar
a atenção mais para o perigo de morte psíquica
do que para o perigo de castração fálico-edipiana
– no máximo é possível formular a hipótese
de ‘histeria arcaica’. É por isso que não
encontramos essas soluções de compromisso diante dos processos
sexuais e edipianos, próprios da neurose, mas antes uma erotização
primitiva, implicando o corpo inteiro que se oferece como local de conflito,
sendo que esse tipo de organização visa a constituir uma
aparência de identidade subjetiva e a proteger contra a morte
psíquica.”
Ela teoriza que pacientes psicossomáticos que estiveram expostos
a traumas contínuos na primeira infância tendem a atribuir
seus problemas emocionais a circunstâncias externas, revelando
uma falha de natureza simbólica e verbal. Não pretendemos
com isso dizer que Maria é psicossomática, mas ela possui
esse tipo de mecanismo acima descrito. Sabemos que, muitas vezes, apesar
desses sinais exteriores parecerem escapar à representação,
são mensagens para o psiquismo; e apesar de ainda ser uma luta
para Maria falar, ela já começa a se perguntar: por que
meu corpo dói?
McDougall afirma ainda que em analisantes que tendem a somatizar seus
conflitos psíquicos e que parecem atingir uma organização
edipiana normal, durante o processo de análise aparece uma imago
paterna deteriorada, ausente tanto do mundo simbólico da “mãe”
(no caso em questão quem fazia o papel de mãe era a tia;
será que ela autorizava esse pai?) quanto da criança (meu
pai é grosso, estúpido, ignorante – falas de Maria
das Dores). O pai aparece como alguém que não merece ser
amado ou é proibido de ser amado pela criança, representando
um papel estruturante mínimo na sua organização
psíquica. De fato, esse pai de Maria aparece sempre como o pai
Real, aquele que goza de todas as mulheres, que tudo pode fazer. É
um pai temível e sobretudo destrutivo. Numa sessão ela
relata nada ir a para frente com nenhum de seus irmãos porque
o pai sempre dizia: “Vocês são barrigada perdida.”
À medida que vamos trabalhando, suas dores abrandam um pouco,
ela começa a perceber que pode se salvar dos vaticínios
paternos, mas todas às vezes que chega perto de algum ponto angustiante,
ela se cala e sente dores e aperto no peito.
Em duas ocasiões, Maria retira a pele do dedo mínimo dos
pés com alicate justamente após sessões em que
ela se sente muito angustiada. Pensamos que ao se machucar, Maria fazia
uma tentativa de contenção da angústia através
desse ferimento. Ao se sentir ameaçada com a aproximação
da representação recalcada, ela usa dessa violência
contra si mesma para barrar a angústia: à medida que atingíamos
níveis psíquicos primários referidos a marcas,
impressões psíquicas corporais oriundas de acontecimentos
traumáticos imemoráveis e inassimiláveis que se
mantêm afastados da consciência e se acalmam e silenciam
através da dor. Freud em “Estudos sobre a Histeria”
afirma que todo acontecimento traumático vivido passivamente
perpetuar-se-á mantendo a intensidade do afeto correspondente,
e que será revivido em toda sua plenitude, se despertado algum
dia.
Pensar o sujeito a partir do que nos é dado a ver, inferir a
significação do que acontece no espaço da sessão
para situar uma hipótese diagnóstica, utilizar os mecanismos
de defesa, as fantasias que perpassam seus sonhos e sintomas possibilita
um vislumbre de sua estrutura e maneira de ser. Trabalhar com pessoas
em que este universo está de tal forma empobrecido, a despeito
da aparente possibilidade de enquadre no setting analítico, nos
coloca frente a um impasse: Como intervir? Qual a sua estrutura clínica?
Como fazer para que consigamos causar alguma mudança, alguma
diferença na dor que silencia, na palavra presa no interstício
do significado, na auto-agressão de se ferir, na angústia
emudecida pelos psicotrópicos? Seria possível abordá-las
por qual vertente: neurótica? psicótica? perversa? normopata?
psicossomática? Como diagnosticá-las? Seriam as categorias
diagnósticas atuais insuficientes para responder ao que estamos
encontrando em nossas clínicas? Urge pesquisar, teorizar e escrever
sobre o funcionamento psíquico dos nossos clientes que se expressam
de maneira diferente e que pagam com seus corpos entorpecidos pelo círculo
vicioso dos sintomas, pelo não saber o que fazer do analista
que vê os dispositivos da análise e sua teorização
se tornarem insuficientes para embasar sua práxis.
Assim como Freud em “Estudos sobre a Histeria” escreveu
sobre Emmy, Maria das Dores causa no analista o mesmo impacto. Sobre
sua paciente ele diz: ...comecei o tratamento de uma senhora de cerca
de quarenta anos, cujos sintomas e personalidade me interessaram de
tal forma que lhe dediquei grande parte do meu tempo e decidi fazer
tudo que estivesse ao meu alcance para recuperá-la (Freud, 1893:91).
Trata-se de uma busca de esclarecimento extremamente pertinente para
a nossa clínica psicanalítica atual, um assunto abrangente
e apaixonante, que com certeza causará inúmeros questionamentos,
suscitando, esperamos, novas perspectivas clínicas...
Keywords
Anxiety – Lack of symbolization – Psychoanalytic practice
– Clinical structure – Transference – Neurosis –
Hysteria – Normalpathia – Robot – analysed or Antianalysed
– Psychosomatic – Psychosis
Abstract The clinical practice and its theory about the different cases had always
been forms to work the impasses that the clinic places to us psychoanalysts,
implying not only in a deepening of the concepts as well as in a form
of questioning our praxis. It has been a while that the analysts have
been interpelled by patients whose dissimulates his difficulties, and
underneath an apparent normality that the psychoanalysis could offer
treatment, a difficulty in adjusting to the analysis, evidenced for
the fact that they don’t fit to the average clinical structures.
Bibliografia
BEZERRA JR., Benilton e PLASTINO, Carlos Alberto (org). Corpo, afeto,
linguagem: a questão do sentido hoje. Rio de Janeiro: Rio Ambiciosos,
2001.
FERRAZ, Flávio Carvalho. Normopatia: sobre adaptação
e pseudonormalidade. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.
FREUD, S. Estudos sobre a histeria. Edição Standard Brasileira,
v.II. Rio de Janeiro: Imago, 1980.
FREUD, S. Sexualidade feminina. ESB, v. XXI. Idem.
KRISTEVA, Julia. As novas doenças da alma. Trad. Joana Angélica
d’Avila Melo. Rio de Janeiro: Rocco, 2002.
MCDOUGALL, Joyce. Em defesa de uma certa anormalidade: teoria e clínica
psicanalítica. Trad. Carlos Eduardo Reis. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1983.
MCDOUGALL, Joyce. Teatro do corpo, o psicossoma em psicanálise.
2. ed. Trad. Pedro Henrique Bernardes Rondon. São Paulo: Martins
Fontes, 1996.
SANTOS, Tania Coelho dos. Quem precisa de análise hoje? O discurso
analítico: novos sintomas e novos laços sociais. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
Recebido
em Junho/2005, aceito em Agosto/2005.
Endereço para correspondência:
Av. Francisco Sales, 1614/604
30150-221 - Belo Horizonte - MG
E-mail: nadjalaender@yahoo.com.br