Ateísmo,
materialismo e crítica à religião na obra de Freud. A importância
destas idéias para conceitos-chave como: pulsão, sexualidade infantil,
eu ideal e recalque. O método psicanalítico, continuação
da maiêutica socrática, antagônico de dogma e texto sagrado.
O método fundamentado numa ética ateísta: da falta, finitude
e diferença. Psicanálise e simbólico; religião e
imaginário. Uso da hipnose e do eu ideal pela religião.
Palavras-chave:
Ateísmo de Freud, Ética psicanalítica, Imaginário,
Figura paterna, Eu ideal.
RESUMO
A proposição
de 9 de outubro de 1967 marca o rompimento de Lacan não só com
a IPA mas com grande parte do acervo histórico e teórico acumulado
por vários pioneiros do movimento psicanalítico. Lacan inaugurou
um novo tempo marcado por seu lúcido trabalho consubstanciado principalmente
nos Seminários e Escritos. Agora temos o pós Lacan, completando
três tempos possíveis para reflexões sobre os caminhos que
temos trilhado.
The october 9, 1967 Proposition,
signs the rupture between Lacan, IPA and the greater part of the theoretical
knowlege introduced by the pioneers. Lacan presents his particular work in the
Seminars” and “Writes”, beginning a new age of Psychoanalysis.
After 40 years, the author finds it a good time for revision.
Antes de iniciar
sua proposição de 9 de outubro de 1967, Lacan insiste em um trabalho
anterior, indispensável à compreensão da nova proposta.
Trata-se da “Situação da psicanálise e formação
do psicanalista em 1956”. Duas questões fundamentais me ocorreram
na leitura destes importantes textos de Lacan. Em primeiro lugar, a época
em que foram escritos, no pleno domínio da IPA, como instituição
oficial reconhecida por Freud, que produziu a auto-outorga de seus membros sobre
o verdadeiro conhecimento psicanalítico e sua posse. A segunda questão
se refere ao estágio em que o guerreiro Lacan era a única voz
de protesto que tentava desalojar o que ele próprio chamou de Bem-Nascidos.
Cinqüenta
anos após, a leitura do texto de 1956 pode surpreender pelo tom excessivamente
polêmico e maneira como estão insinuadas tantas propostas de Lacan,
que vieram a aparecer nos seus ensinamentos posteriores e que hoje são
aceitas como rumos mais honestos no seguimento às idéias iniciadas
por Freud. De qualquer modo, graças ao providencial distanciamento que
possuímos hoje, temos uma compreensão histórica que nos
aponta a causalidade dos descaminhos da instituição e de seus
seguidores, livres da paixão ideológica de garantia da perpetuação
da IPA, e também de uma conversão absoluta ao pensamento de Lacan
como tábua de salvação para a psicanálise. Talvez
seja um bom momento para repensar a história da instituição
e da formação psicanalítica.
A análise
didática
Freud percorreu
seu caminho pioneiro iniciando pela observação direta dos seu
pacientes, o que lhe permitiu introduzir conclusões teóricas apoiadas
principalmente na auto observação aguda e genial. Partindo de
seu próprio inconsciente podia estabelecer descrições genéricas
voltando ao exercício da clínica para comprovar ou retificar suas
afirmativas. Seus discípulos imediatos encontraram uma doutrina em formação
e tentavam entrar no cerne da psicanálise ou, de modo mais simples, numa
identificação com o mestre e imitação do que Freud
fazia. Posteriormente, os novos candidatos passaram a procurar os discípulos
de Freud formando uma terceira geração que impôs inquietante
questão para os novos mestres: como se faz um psicanalista?
Essa preocupação
que persegue as instituições até os nossos dias, começou
a ser formalizada em 1910, depois de ter sido discutida no Primeiro Congresso
de Salzburg que aconteceu em 1908. Nesta ocasião, Freud, Ferenczi, Jung
e Abraham propuseram o movimento psicanalítico, em bases ditas cientificas,
aspiração mais do que justificável para o médico.
Em 1911 no Congresso
de Weimar, Freud expressou sua preocupação com os seguidores da
psicanálise, dizendo que “o analista precisa aprender a tolerar
a extensão da verdade”. A medida que a teoria avançava,
novas implicações diretas aconteciam sobre a técnica da
clínica e, conseqüentemente, as dificuldades pessoais de alguns
analistas apareciam de modo mais evidente nas suas relações com
os pacientes.
Em Berlim, no
Congresso de 1922, a formação foi mais claramente delineada com
o estabelecimento de que a prática psicanalítica somente pudesse
ser realizada por quem tivesse freqüentado o curso teórico aprovado
pela sociedade. No Congresso de Insbruck (1927), Ferenczi1
defendeu a idéia de que a psicanálise é essencialmente
uma experiência que deve ser vivida pelo futuro analista, enquanto paciente.
Daí um novo corolário de que o analista deveria ser analisado
do modo mais completo possível. Esta proposição produziu
um rol de exigências sobre o futuro analista sendo que o impossível
pretendido foi tomado pela sociedade psicanalítica como possibilidade
ofertada no caminho para a perfeição. Finalmente, a formação
tomou novo formato, estabelecendo-se os quatros elementos essenciais, como seguem:
a) a formação
deve ser dada por um analista aprovado pela sociedade — Analista Didata;
b) o candidato deve submeter-se à psicanálise;
c)o candidato deve receber treinamento teórico e supervisão;
d) o candidato deve ser aprovado à prática – Autorização.
É fácil
observar que os operosos psicanalistas, preocupados com a questão de
formalizar se detiveram mais no modelo acadêmico do que na especificidade
da nova área do saber. É bom insistir que, no Congresso de Insbruck
de 1927, Ferenczi foi o único discípulo de Freud capaz de ir mais
próximo da questão inconsciente que permeava o problema e, vencendo
a oposição de alguns de seus pares, propôs que a análise
do futuro analista deveria ir além da análise dos pacientes.
Como Lacan denunciou
posteriormente, o modelo formal praticamente eliminou o inconsciente da questão
da instituição. Para se ter uma exata noção de quão
distante estavam, podemos lembrar o que já tardiamente Kovács
(1936) escreveu sobre a análise do candidato a ser psicanalista, que
deveria ser colocada em uma espécie de condição especial
diferente da análise chamada terapêutica dos clientes. A idéia
era “familiarizar o candidato com os mecanismos do inconsciente através
de seus sonhos e poderia revelar seu complexo de Édipo, mas nada deveria
ser imposto ao caráter do candidato”. Podia ser até uma
descoberta, mas ainda presa à noção de redução
dos sintomas neuróticos. Esta análise não pretendia nenhum
tipo de retificação subjetiva ou constituição do
sujeito analista.
O imaginário
dos mestres iniciantes podia arbitrar o modelo a ser perseguido pela instituição.
Mas somente Freud foi mestre e analista de seus discípulos. Os analistas
didatas envolvidos com a causa institucional tiveram, em sua maioria, uma experiência
decepcionante pela impossibilidade de se sustentarem no lugar fixo do saber.
À idealização imaginada correspondia a identificação
dos candidatos com os mestres. Havia uma noção bizarra sobre o
aprofundamento da análise, e até que ponto alguém poderia
ou deveria ser analisado confundindo-se com a implicação que haveria
entre o inconsciente do analista e o do seu cliente.
Foi assim, com
a submissão dos futuros analistas e o poder imaginário dos eleitos,
que a instituição cresceu, assumindo as funções
de legislação e controle. Sendo um órgão executivo,
a instituição psicanalítica tornou-se totalitária
por possuir o poder absoluto.
O retorno a uma
compreensão analítica destas questões começou a
despertar vários autores que se tornaram dissidentes das instituições
de origem. Entre eles, Lacan se destaca, não só pelo protesto,
mas pelo movimento de rompimento institucional e releitura de toda a obra de
Freud. Não se pode entretanto aniquilar a experiência da IPA como
insana e pensar que tudo deveria ser feito a partir de uma tábua rasa.
Os erros cometidos é que puderam nortear os pensadores de Freud para
outros caminhos. E, em uma posição verdadeiramente analítica,
devemos interpretar o que teria acontecido. Natural que o temor do encontro
com o próprio inconsciente seja o obstáculo maior à demanda
de análise. Ana O alertou para o perigo das tentativas de se analisar
alguém. Daí a resistência imposta pelos eleitos que pretendiam
ser analistas sem enfrentar suas próprias trevas, pela conivência
com seus alunos que deveriam se resguardar dos riscos da análise.
É entretanto
importante verificar que as idéias de Lacan não conseguiram aceitação
universal e muito menos que sua denúncia tenha levado a IPA à
falência ou ao extermínio. No Sétimo Pré-congresso
sobre formação psicanalítica, realizado junto com o Trigésimo
Congresso Internacional de Psicanálise, na cidade de Jerusalém,
em agosto de 1977, foi discutida uma monografia intitulada “Princípios
objetivos em procedimentos da formação psicanalítica”
(ORGEL, 1977). O texto teve como autoria os institutos participantes, resultado
de uma pesquisa entre 28 das 57 instituições espalhadas pelo mundo
e tentava responder três questões fundamentais:
1. como um programa
de formação pode abarcar dois objetivos, de formar o profissional
da psicanálise e de levar seus estudantes ao entendimento da teoria psicanalítica
a fim de enriquecer a ciência psicanalítica?
2. Que tipo e grau de modificação pessoal são esperados
em um candidato quando atravessa sua formação e como pode adquirir
sua identidade de psicanalista?
3. Como a formação (análise pessoal, curso teórico
básico e a supervisão analítica) poderão atender
aos objetivos e expectativas da instituição?
Isto aconteceu
dez anos após a proposição de 9 de outubro, mostrando que,
embora Lacan tivesse iniciado um forte movimento paralelo, suas idéias
não incidiram de modo importante no procedimento da IPA. Os leitores
apaixonados por Lacan podem pensar que a IPA foi destruída. Ela entretanto
continua existindo a nível mundial com mais psicanalistas ortodoxos do
que seguidores de Lacan. Isto nos fala de uma clínica possível,
ainda que exercida sob forte imposição do imaginário e
com a transferência mantida de forma não aceita por nós.
Tempo de
Lacan
A reação
à ortodoxia e ao domínio da psicanálise por um grupo que
se colocava como dono do saber se fez sentir desde o início do processo
de institucionalização. Temos a evasão de Adler, Jung,
a expulsão de Stekel, ou a contenda do grupo de Berlim quando Eduard
Glover armou sua cliente Melita Schmideberg para a guerra contra sua mãe
Melanie, escândalo que terminou com a destituição de Glover
e a divisão da análise de crianças em dois feudos: Anna
Freud e Melanie Klein. Foi neste clima institucional que aconteceu a estréia
de Lacan na IPA, durante o XIV Congresso Internacional de Psicanálise,
realizado em Marinbad entre 2 e 8 de agosto de 1936. Estiveram presentes 198
participantes, sendo 11 membros e 87 convidados. Embora Elizabeth Roudinesco
(1993) sugira um certo brilho na apresentação de Lacan, ele foi
o segundo apresentador entre outros seis, em uma sessão científica.
Lacan foi o único deles cujo resumo de trabalho não foi incluído
no “report”. Há apenas a referência ao título
“The Looking-Glass Phase”. É de Lacan o comentário:
“Fiz uma comunicação em norma ao congresso de Marienbad
em 1936, pelo menos ao ponto de coincidir exatamente com o quarto aviso do décimo
minuto, quando me interrompeu Jones, que presidia o congresso enquanto presidente
da Sociedade Psicanalítica de Londres, posição para a qual
o qualificava certamente o fato de eu jamais ter podido encontrar um de seus
colegas ingleses que não tivesse a me informar sobre algum traço
desagradável de seu caráter. Não obstante, os membros do
grupo vienense lá reunidos como pássaros antes da migração
iminente deram uma acolhida bastante calorosa à minha exposição”.
Lacan acrescenta que, não entregando o texto para as atas, o disponibilizou
no trabalho sobre a família, publicado em 1938 na Encyclopédie
Française – Tomo “La Vie Mental” . Estava assim
marcado o início da mais importante dissidência da psicanálise.
A polêmica, entretanto, não se deu pelas inclusões e assertivas
teóricas que Lacan passou a apresentar, mas sua expulsão veio
das inaceitáveis práxis recentes e das inovações
sobre os caminhos da formação psicanalítica.
Contrariamente
ao grupo dos eleitos ligados à International Association of Psychoanalysis,
tivemos verdadeira eclosão dos descontentes que se organizaram como independentes
tipo Culturalismo, Psicanálise Existencial, Junguianos e tantos outros.
A força da instituição mãe criava para os novos
grupos uma condição de ilegitimidade, que possivelmente tornava
as iniciativas mais tímidas. Assim, o Círculo de Viena, berço
do Círculo Brasileiro de Psicanálise, foi fundado por Caruso como
entidade autônoma para repensar Freud a partir das origens. Unido aos
colegas Gerard Chrzanovski e Erick Fromm, criaram a International Federation
of Psychoanalitical Society, que foi criticada por Lacan ao chamar atenção
de que estavam tentando fundar uma nova IPA.
Os inúmeros
pensadores, transformadores ou inovadores da psicanálise terminaram com
atuações restritas que em sua maioria não se propagaram
além da vida de seus fundadores. Lacan se lançou na árdua
tarefa de revisão teórica das propostas de Freud, produzindo uma
mobilização sem precedentes, polarizando de modo definitivo o
movimento psicanalítico. Com ele, toda a estrutura psicanalítica
mudou, incluindo o acervo teórico, a clínica, a instituição,
os cânones da formação, a relação com a psicopatologia
e a doença mental, a questão das indicações à
psicanálise ou demanda, a transferência e a questão do suposto
saber.
Existe
um pós-lacanismo?
A partir da morte
de Lacan em 1981, aparecem as tentativas de se entender o avanço de sua
teoria, mas ainda não foi possível articular sua obra com sua
história pessoal. Leite (2000) é otimista imaginando que talvez
um dia surja um equivalente a Ernest Jones para Lacan e uma biografia válida
nos permita refletir sobre as motivações de sua obra. Sugere que
talvez isto seja possível com a volumosa biografia de Roudinesco (1993).
Entretanto, acreditamos que a vida de Freud esteve tão visceralmente
ligada a sua obra, que autor e obra se confundem muitas vezes. Freud partiu
dele mesmo, mas Lacan partiu de Freud e produziu sua teoria no discurso para
seus alunos em seus concorridos seminários. O outro de Freud foi ele
mesmo.
Outra questão
levantada com a morte de Lacan foi o reconhecimento de quem seriam os verdadeiros
filhos do mestre e quem seriam os bastardos. Judith Miller e seu marido Jacques-Alain
Miller apareceram como os herdeiros legítimos, por questão de
sangue e propriedade reivindicada das Obras e Seminários, enfim, do controle
do saber Lacaniano. Mas pelo próprio corte realizado por Lacan, seria
impossível a concentração ou monopólio institucional
e os grupos de estudos de Lacan proliferaram. A hegemonia da Escola sofreu seu
cisma com a separação de Collette Soler, polarizando o grupo em
saudável dialética. No momento, vivemos a curiosa proposta de
Judith Miller para adoção das terapias breves, voltando a Abraham
em iniciativa apoiada por Miller e, como disse Quinet, inspirada em Ana Freud.
Em vez da nova análise vir como proposta discutível, ela surge
com aprovação irrevogável. A questão institucional
não pode, entretanto, ser prioritária, já que, sendo uma
nova práxis, exigirá por certo novo suporte teórico.
O pós Lacanismo
é a continuação de uma intervenção lúcida
e profunda da teoria psicanalítica, que de início dividia e hoje
une pela certeza de que nenhum psicanalista pode sê-lo desconhecendo o
pensamento de Lacan. A obra de Lacan, por sua extensão e complexidade,
tem aprisionado seus leitores fascinados com o nom plus ultra do mestre.
Alain Didier-Weill2 deu voz a psicanalistas
dissidentes da EFP e obteve um acorde uníssono sobre a obra comentada.
Também Gabriel Lombardi (2001) preparou para o lançamento de Heteridade
numero 1, a Revista Internacional dos Fóruns do Campo Lacaniano, uma
enquete com a questão: “O que é ser lacaniano, hoje, para
um psicanalista? Também aqui encontramos grande simetria e afinidade
nas respostas3, que podem ser resumidas
na conclusão de Isidoro Vegh “concluo com um aparente paradoxo
– creio que, hoje, ser lacaniano é não pretender sê-lo,
mas tentá-lo em uma curva assintótica que não teme descobrir
sua própria trajetória, com seus tropeços, para elevá-los
à dignidade da pergunta”.
Mesmo diante de
tanta certeza, é bom lembrar que a ideologia de preservação
de qualquer obra como se fosse eterna pode retirar-lhe a chance de
evoluir ou produzir novos frutos. As respostas unívocas e as interpretações
dogmáticas sugerem a urgência de novas reflexões epistêmicas.
Assim, vivemos momento propício a revisões da teoria, das questões
da clínica e da instituição psicanalítica.
Pelo modo como
foram feitas as transcrições dos seminários, pode-se propor
uma revisão de estilo, de conceitos e conteúdos semânticos
do vocabulário usado e das imprecisas e ausentes citações.
Seria importante retomar a manipulação de frases retóricas
desvinculadas do sentido dos textos. A revisão dos conceitos empregados
por um não matemático já foi alvo de considerações
por Sokal e Bricmont (1955). Deve-se levar em conta também que as analogias
precisam ser restringidas à teorias bem estabelecidas, evitando-se a
criação de sistemas comparativos fechados que se expliquem uns
aos outros. Os seminários não são mais anotações
de freqüentadores das aulas de Lacan e os efeitos da fala são diferentes
da escrita. Assim é necessário levar em conta que “uma metáfora
é usualmente empregada para esclarecer um conceito pouco familiar, relacionando-o
com outro conceito mais familiar, e não o contrário” (SOKAL,
1955). Existem muitas outras propostas mais fecundas que nos permitem fazer
novos confrontos sobre questões fundamentais da psicanálise.
No que tange às
questões institucionais, ficamos com a repercussão de problemas
sobre os quais perdemos o controle. O princípio genuíno do analista
que se autoriza produziu o direito para quem, não sendo analista, resolve
se autorizar, exatamente por não sê-lo, levando nosso título
a uma extensão máxima. A instituição desfeita e
que deixa de ter força ou ser necessária, cria o analista livre
atirador, que, não tendo apoio para continuar sendo analista, se perde
sem se dar conta que,desvinculado do convívio profissional, da teoria
e das casuísticas clínicas, deixa de ser psicanalista sem que
saiba disto. O ensino ou estudo da teoria psicanalítica, independente
de um percurso de análise, criou força e tem sido deslocado para
a universidade. Até em nossas jornadas e congressos, a titulação
acadêmica orna de modo exuberante o currículo dos psicanalistas,
como uma referência maior. Por outro lado, a invasão do não
saber psicanalítico pelos utilitaristas religiosos ou pagãos tem
inquietado a todos pelo dilema da legalização ou reconhecimento
legal para o exercício da clínica em psicanálise.
Finalmente, a
psicanálise depois de Lacan encontra questões que transcendem
a ela e exigem uma nova clínica para vencer as impossibilidades da falta
de laço afetivo das relações pós-modernas. Precisamos
tentar elucidar a questão das evidências como propõe Gerbase
(2007) ou, voltando a sua questão mais ampla perguntar: “o mundo
contemporâneo comporta uma terapêutica?”
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Membro fundador do Círculo Psicanalítico da Bahia 1 Segundo o relatório de
Ana Freud (Report of the Tenth International Psycho-Analitical Congress, Insbruck)
para o Bulletin of International Psycho-Analitical Association publicado em:
International Journal of Psycho-Analysis. London: Wm Dawson, 1928.
v. IX. 2 Didier-Weil colheu os depoimentos
de Charles Melman, Christian Simatos, Claude Dimézil, Daniel Wildlocher,
Jean Clavreul, Maud Mannoni, Michele Montrelay, Moustapha Safouan, René
Bailly, René Major, René Tostain, Serge Laclaire, Wladimir Granoff. 3 Responderam à enquete:
Claude Dumézil e Philippe Julien, de Paris, Jacques Laberge, do Brasil,
Darian Leader, de Londres, Paola Mieli, de Nova York e Isidoro Vegh, de Buenos
Aires