A propósito
da análise de uma paciente, o autor discorda de Winnicott quando, afastando-se
da perspectiva freudiana, pretende poder isolar e tratar da falha do ambiente
humano, nos primeiros momentos da vida, apartada da vida pulsional. A experiência
humana faz fracassar a idéia de “necessidades naturais”.
Nunca isoladas, elas sempre estão marcadas pelo inconsciente dos adultos.
“Necessidades” como a dependência, por exemplo, atualizadas
pela experiência transferencial, têm a característica de
ser sem fundo, como uma adição. Nem por isso se situam fora do
sexual e de seu infantilismo. A regra fundamental convida o pensamento ao auto-erotismo.
Esta sedução, sexualização, que cria o espaço
analítico, repousa sobre a convicção de que o sexual infantil
é não somente determinante do conflito psíquico, mas também
que ele contém, por sua polimorfia, sua plasticidade, capacidades de
transformação que podem ser postas a serviço da mudança
psíquica. Numa extremidade a repetição até à
compulsão, na outra uma faculdade de deslocamento sem igual. O objetivo
do tratamento não é, pois, introduzir uma sexualidade infantil
supostamente ausente – o desmedido das “necessidades” sinaliza
sua presença compulsiva – mas de restaurar-lhe e até mesmo
inventar-lhe a plasticidade. Todo o playing técnico ao qual se entrega
Winnicott deve ser interpretado nesse sentido. A sexualidade infantil não
é somente o objeto da psicanálise, é também o caminho.
Considering one
of his patients’ psychoanalysis, the author disagrees of Winnicott when,
moving away from the freudian perspective, intends to isolate and treat the
human environmental failure that occurs in the origins of life, taken apart
from the pulsional character of psyche. The human experience does not support
the idea of “natural necessities“, which never appear isolated,
but changed by the adults’ unconscious. Updated by the transfer, “necessities”
(such as the dependence, for instance) are like bags without bottom, they are
like an addiction. Nevertheless, they are situated in the field of sexual and
its infantilism. The fundamental rule invites thinking to self-eroticism. A
true sexualisation that creates the psychoanalytic setting, this seduction rests
upon the statement that affirms the infantile sexual as a determinant to the
psychic conflict. Also, the infantile sexual is the responsable for the psychic
transformations because of its plasticity, its polymorphic nature and its capacities
for psychic changing. that may be put into the service of those mental modifications.
In one extremity, the repetition until the compulsion; in the other, the incomparable
displacement faculty. Thus, the goal of the treatment is not to introduce an
infantile sexuality supposed as absent - the excessive of “necessities”
points out its compulsive presence - but, indeed, to restore and even to invent
the plasticity. Every technical playing to which Winnicott is involved to should
be interpreted in this sense. The infantile sexuality is not only the psychoanalysis’
object: it is also the way of researching.
Keywords:
Natural necessities, Infantile sexuality, Updating in transfer, Compulsion of
repetition, Plasticity to transformer.
Laura vem à
análise quatro sessões por semana. Atendo-a face a face, ela recusa
o divã. Nada de me perder de vista, a mesma vigilância que, à
noite, a impede de se abandonar ao sono, acompanha cada uma das nossas sessões.
Ela sabe o que é ser abandonada sobre um divã, ela que sofreu
os efeitos sucessivamente angustiantes e enervantes desse abandono, durante
vários anos, com uma analista mulher. Dirige a esta mulher e à
sua mãe uma mesma cólera, pelas mesmas razões: frieza,
distância, incompreensão, indiferença... Na poltrona, seu
corpo envia mensagens de desconforto, de esgotamento que me levaram a convidá-la
a utilizar o divã ao menos como leito para repousar. Secamente, me fez
saber que não esperasse que caísse numa armadilha tão grosseira.
“Irei para o seu divã quando a análise estiver terminada”.
No dia da semana sem sessão, ela sente se desfazer o fio mal tecido da
análise, alguma coisa nela desmorona, pode decidir parar a análise
várias vezes durante o dia. As próprias sessões conservam
a marca disso: “eu não estou aqui, vou embora1”.
*
Ainda que fundamental,
o enunciado da regra analítica nem por isso é universal, ele conserva
a marca de sua história singular, a da descoberta do recalque operando
nas psiconeuroses. Que quer dizer a regra (“diga tudo que lhe
passa pela cabeça...”) àquele a quem ela se dirige? Abandone
os constrangimentos da conversa habitual, dê lugar aos pensamentos secundários,
não hesite em “retornar ao dilúvio”2.
“Isso não tem nada a ver, é sem importância, insensato...”,
não ceda a essas intimidações, pelo contrário. E
se, numa palavra, for preciso indicar o passo a seguir, então: “perca
o fio, fale língua desligada.” Mais que uma regra, a regra é
uma artimanha: pegar o ponto fraco da barreira do recalcamento, surpreender
o catenaccio3, contornar
a mais imóvel das resistências. Não, dizer o que se preferia
guardar para si, o inconfessável – o que não é senão
a tradução da mensagem para o obsessivo – mas dizer o que
não se sabe. A esperança de um tal enunciado é
dupla: do lado do analisando, permitir à idéia tornar-se incidente,
do lado do analista, autorizar a atenção a tornar-se flutuante.
Outro é
o gesto que instaura a análise de Laura. A frase que, ao termo das entrevistas
preliminares, fica no lugar da regra, se formula assim: “proponho-lhe
vir quatro sessões por semana (indicando, ao mesmo tempo, que teria preferido
cinco), face a face, deixando para mais tarde a eventualidade do divã.”
Enunciado bem recebido (divã à parte), ela é seduzida pelo
tempo que pretendo consagrar-lhe. A palavra proferida é tão inaugural,
tão fundadora quanto a regra, a não ser pelo fato de que ela não
se destina ao mesmo lugar psíquico. Enquanto a regra (“diga tudo
que lhe passa...”) espera se fazer ouvir pelo recalcado, minhas próprias
indicações se destinam ao eu, às suas fronteiras, àquelas
que delimitam o tempo e o espaço, formas a posteriori mas, no
entanto, primitivas da vida psíquica. E minhas palavras só se
dirigem a ele, ao eu, porque adivinham muita incerteza e fragilidade nos confins
de seu território.
O enquadre, o
setting é um “ser de fronteiras”, como o eu, do
qual ele é a projeção na superfície da análise
– projeção, aqui, no sentido geométrico. Se o eu
(e na seqüência o enquadre) está fora do tempo, é num
sentido outro que o inconsciente. A a-temporalidade deste designa um lugar psíquico
submetido ao regime alucinatório, lá onde desejar é fazer,
sem distinção, sem demora, um lugar onde a fantasia se realiza,
ignorando as reticências do mundo exterior. Se o eu está fora do
tempo, não é por a-temporalidade, mas por eternidade.
A eternidade está menos fora do tempo que contra ele, é mesmo
o que a define: é “eterno” o que não é “temporal”.
Fantasia narcísica por excelência, a eternidade, a vida eterna,
desmente o tempo em nome de um presente continuado, sem começo nem fim
– sobretudo sem fim, aliás. A morte e a eternidade são como
frente e verso da mesma folha, o que as opõe é o que as reúne.
“Quando se morre, é para sempre.” Uma outra palavra para
dizer “eternidade” seria “identidade”. Identitas,
a qualidade do que permanece o mesmo, a identidade substancial é um sonho
de eternidade. Diferentemente do inconsciente, Narciso não ignora a negação,
ele a recusa, como recusa a “decomposição da personalidade
psíquica”4 a fim de
perseguir um sonho de Um, por exemplo, o que Winnicott denomina “verdadeiro
self”. O self, o si mesmo, é uma crença,
uma ilusão (vital), a de ser, nada mais do que ser, somente to be,
sem a angústia do not to be. Poder se tomar por um todo, poder
ignorar “a fragmentação em pulsões parciais”
que sempre ameaça a mínima a mais bem-sucedida das sínteses5.
O terror de Laura é de sair “aos pedaços” da sessão
da noite de sexta, na véspera do fim de semana.
O ponto de vista
do desenvolvimento, que Winnicott privilegia de modo manifesto em muitas ocasiões,
mascara só-depois o movimento de sua própria descoberta. Ele próprio
o indica, apenas de passagem, em Anatureza humana: a ênfase
colocada sobre o desenvolvimento e sua cronologia faria pensar que a observação
direta da criança muito nova constitui a via “natural” para
o estabelecimento de noções tais como as de self, de
holding, etc. Não é o caso, a observação
direta, sublinha Winnicott, permite descrever o corpo da criancinha, seu comportamento,
não sua vida psíquica. Mesmo a consulta terapêutica com
crianças pequenas não dá senão resultados parciais.
“O estudo mais convincente das necessidades da pequena infância”
vem de alhures. Veio “das observações praticadas sobre pacientes
em análise que regrediram no curso do tratamento. Na minha própria
experiência, aprendi mais observando a regressão contínua
seguida de progressão nos casos borderlines, quer dizer em indivíduos
que devem atingir neles mesmos, no curso do tratamento, uma patologia psicótica”6.
Para o dizer mais simplesmente, nunca ninguém viu uma good enough
mother! mesmo se a imagem é evocativa para cada um de nós.
Sua construção se faz sobre o sítio da análise.
Até aí Winnicott é de uma grande fidelidade freudiana,
ao teorizar em contraponto, a partir das formas psicopatológicas atualizadas
pela transferência, uma mãe “bastante normal”, quer
dizer que não deixa cair7
seu bebê, quando o segura em seus braços ou na sua psyché.8
Laura não pode confiar no divã para a segurar. Sua fobia de avião,
que se transforma em cena de pânico no aeroporto quando sua mãe
também esteja viajando, esta fobia permite entender essa falta de confiança.
Como todo o sintoma, este é equívoco, mas por vezes, quando a
sustentação do divã está falha, a coisa se faz transparente:
o bebê é um ser “aeroportado”, descobre a gravidade
ao nascer9. Para poder tomar o
avião sem outra angústia além de uma ligeira inquietude,
a fortiori para se abandonar ao sono em pleno vôo, sem sonífero
nem whisky, é preciso dispor no interior de si de uma confiança
quase absoluta em quem vos carrega. Com Laura, nossa navegação
analítica se desenrola quase sempre sobre um fundo de turbulências
e de vácuos. Mas os momentos mais perigosos, eu aprendi pouco a pouco,
são aqueles em que uma verdadeira confiança a habita. Enquanto
a análise balança, segura-se, luta e se angustia, mas é
a confiança instalar-se e a queda a vir será sem fundo. E é
preciso que a confiança se instale, forma tão paradoxal da
compulsão de repetição, porque uma das características
essenciais da falha (do ambiente precoce ou analítico), aquela que a
transferência busca reproduzir, é de ser imprevisível10.
E não há imprevisível sem confiança previamente
restabelecida.
Minha divergência
com Winnicott começa lá onde ele se afasta da perspectiva freudiana,
quando pretende poder isolar, e tratar (cuidar) um espaço psíquico,
digamos o ambiente humano falho dos primeiros momentos da vida, apartado da
vida pulsional, apartado do sexual infantil. Ele podia mesmo zelar, de modo
ciumento, por esta distinção. Quando Enid Balint, acreditando
citá-lo, evoca “a regressão à dependência oral”,
ele lhe escreve de volta para chamá-la à ordem: “Você
não encontrará esses termos de dependência oral em mim,
eu evitei mesmo especialmente misturar as duas coisas, quer dizer a regressão
à dependência e a regressão em termos de estádios
pulsionais. A regressão à dependência, da qual verdadeiramente
falei muito, não me parece especificamente ligada à fase oral,
e na verdade eu quero destacá-la completamente dos estádios e
do desenvolvimento pulsionais e, portanto, pô-la em relação
com a função de relação do eu, que precede a experiência
pulsional reconhecida enquanto tal”11.
Que a experiência pulsional não seja reconhecida como tal é,
do lado da mãe, que mistura a seu comércio com o filho “sentimentos
provenientes de sua própria vida sexual”12,
questão de recalque. Enquanto, do lado do filho, é a conseqüência
dos meios demasiado rudimentares de sua “libido psíquica”.
Mas o que a psiquê deste último não pode ligar, seu corpo
o exprime, tanto como o chupar auto-erótico que segue a mamada quanto
através da anorexia precoce. A este respeito, o próprio Winnicott
se contradiz quando escreve: na anorexia, “a satisfação
oral tornou-se um fenômeno separado, uma espécie de sedução.
O que é mais importante para a criança é não
comer; ela escapa à sedução e, mesmo se estiver morrendo,
existe enquanto indivíduo”13.
Paradoxo de um bebê que busca restabelecer a ordem mamífera da
necessidade contra a usurpação pulsional, recusando-se a ser alimentado!
É como se dissesse que a experiência humana faz fracassar a própria
idéia de “necessidade natural”. Não que essas necessidades
não existam, mas elas nunca estão sozinhas, sempre complicadas
por outra coisa, a começar pelas marcas deixadas pelo inconsciente materno.
O bebê anoréxico já sabe, à sua maneira, que, mamando
o seio, ingerindo o leite, incorpora algo de desconhecido e de inquietante,
alimentos psíquicos que é melhor não engolir porque, demasiado
terrenos, ameaçam destruí-lo. As “necessidades” atualizadas
pela experiência transferencial, a começar pela dependência
– Laura, ao terminar a sessão de sexta à noite: “eu
não sairei daqui... vou esperar a sessão de segunda”–,
essas necessidades têm a característica de ser sem fundo, como
uma adição. Ao passo que uma necessidade “natural”,
auto-conservadora, é definida, ao contrário, por sua capacidade
de apaziguamento, desde que efetuada a ação específica.
O camelo pára de beber uma vez suas corcovas repletas.
Permanecemos,
com a “necessidade” (besoin), enredados numa falsa naturalidade.
É astúcia da necessidade fazer passar seu apelo, seu grito (“tenho
necessidade de você”), por expressão bruta da necessidade
(nécessité). “Necessidade”, a palavra cheira a míngua,
sua exigência de apaziguamento pretende-se de ordem natural. Se a escutamos,
ela não tem nem avesso nem mistério, é simples como a miséria,
triste como a penúria; em todo caso, é o que ela tenta convencer.
Se imperiosa, não é por ignorar o tempo, sob muitos aspectos ela
o conhece bem demais, mas não o suporta, não suporta que o tempo
apareça por ele mesmo, como na espera, por exemplo. O desejo é
hipotético, conjuga o passado-futuro no condicional, sua língua
primitiva é a da fantasia. A necessidade, esta, não tem tempo,
a não ser o atual. Nada nela se presta ao cenário, ela é
real.
Em carta a Clifford
Scott, Winnicott escreve: “desde que tive a experiência dessas regressões
(à dependência), interpreto mais em termos de necessidade e menos
em termos de desejo. Por exemplo, quando me parece suficiente dizer: “lá
onde estamos, você tem necessidade quer eu o veja neste fim de semana”,
quando a existência de uma descontinuidade no tratamento faria esperar
algum mal. Se, num semelhante momento, se diz: “Você gostaria que
eu renunciasse ao meu fim de semana”, se está na pista errada”14.
Sigo Winnicott quando se trata de sublinhar que não serve de nada falar
ao paciente um dialeto que não é o seu. Um modo sistemático
de propor a forma edipiana através da interpretação desvaloriza
a psicanálise transformando-a em ideologia. Mas pode-se sustentar que
a “necessidade” que caracteriza as formas de regressão à
dependência nos situam fora do sexual e de seu infantilismo? É
explicitamente o que sustenta Winnicott: “aquilo a que me refiro não
tem nada a ver com tudo isso (pulsões e desejos), mas concerne as técnicas
de cuidados maternais precoces ou ainda mais primários que, se insuficientes,
fracassam em encontrar as necessidades e perturbam, portanto, a continuidade
do desenvolvimento do indivíduo”15.
Desde o início
da análise, Laura podia manifestar, num momento angustiante da sessão,
sua vontade de partir. Um resto de civilidade e meu convite para continuar mantinham-na
na poltrona. Depois ela ganhou a liberdade de se levantar e de partir, deixando-me
lá. A coisa se repetiu várias vezes, sem que a retomada desses
momentos na sessão seguinte mudasse o que quer que fosse. Acabei por
proceder de outro modo, não de modo premeditado, mas me fiando no apelo
transferencial do momento. A angústia se apoderava dela, uma angústia
que podia fazê-la bruscamente se levantar e partir. Eu tinha tido tempo
de apreender-lhe os sinais: um corpo tomado pela contorção, uns
olhos que procuram as lágrimas, um rosto que se deforma, um rosto de
bebê antes do grito. Uma comunicação primitiva, sem palavras,
mas uma comunicação. Eu lhe perguntava: “O que se passa?”
Ela tinha anteriormente evocado uma cena de desamparo num de seus médicos,
depois de uma ruptura sentimental – todos os seus médicos: generalista,
dermatologista, ginecologista, são mulheres e amigas de sua mãe
–, e a prescrição que disso tinha resultado: Atarax, um
xarope que se costuma dar às crianças para apaziguá-las
e lhes facilitar o sono. Minha questão a mergulhou numa busca silenciosa
da qual não emergiu senão a palavra “Atarax”. Imaginei
uma cena que lhe propus: havia lá um bebê que gritava há
muito, uma “mamãe” que dava Atarax quando a criança
teria esperado que lhe chegasse outra coisa, outra coisa que teria dito ou feito
“amor”. A sessão prosseguiu no ritmo de uma troca ao mesmo
tempo lenta e serrada, mais na imaginação do que não tinha
tido lugar que na sua rememoração. Na sessão seguinte,
Laura diz que por um triz não partiu, que tinha visto muito bem como
eu tinha feito “para alcançá-la em pleno vôo”,
que ela poderia querer-me mal por alguma coisa assim, “porque é
tarde demais.”
A coisa pode-se
ouvir de várias maneiras: tarde demais para ser amada, para ser amada
como se ama, para que o desejo encontre o caminho de sua realização,
para se assegurar de que tudo isso não ficará sem amanhã
(“eu sou” é uma abreviação de “eu sou
amado”)... mas também: sua presença inédita, intempestiva,
me priva de “minha mãe”, aquela que não escuta os
gritos que não grito, aquela que olha alhures quando me olha, aquela
que acreditando me escutar só escuta o fio de seu próprio pensamento.
Esta mãe sobre o modelo da qual eu escolho meu amante, aquele a quem
posso perguntar vinte vezes: “Tu me amas?” e que, na sua resposta,
não pode ir além de: “eu te aprecio.” Um amante, uma
mãe que, à angústia, só sabem opor a estóica
ataraxia. No jargão psicanalítico, “ataraxia” diz-se
“neutralidade”.
É um mistério,
nada há de mais siderante, e mesmo de mais cativante, que ser
o objeto paradoxal do não investimento. A ponto de permanecer suspenso
toda uma vida a lábios que não vos falam, porque eles
não vos falam. A ponto de eleger por “companheiro” aquele
para o qual não se existe, ou se existe tão pouco que é
sempre pouco demais. Pouco demais, quer dizer para o qual não se existe
absolutamente. Quando bebê, se tem uma mãe atingida pela
depressão, tomada pela indiferença, é para toda a vida.
Captura,
aqui, soa mais correto que sedução. Sedução
é uma palavra carregada de excesso, mal empregada lá onde a paixão
está exangue, quando a criança não decifra nada que se
lhe assemelhe sobre a face do adulto.
Na sua retomada
da teoria da sedução, Jean Laplanche sugeriu que o dispositivo
da cena analítica, para além de sua aparência de artifício,
reproduz algo do que ele denomina “situação antropológica
fundamental”, ou seja, a sedução inconsciente do adulto
à criança, uma sedução que mistura seus efeitos
às relações de cuidados e de ternura acompanhando os primeiros
momentos da vida. Abandonando a sedução em teoria, Freud a teria
restabelecido sem se dar conta, inventando o dispositivo prático do tratamento.
O que se apresenta manifestamente como um artifício técnico seria,
no fundo, a metáfora de uma situação humana primordial.
Se a análise
tem o poder (eventual, parcial, mas, mesmo assim, poder) de destraduzir as construções
existentes, de reabrir o processo de elaboração, de permitir a
mudança psíquica, é porque casa na sua forma a dissimetria
que caracteriza a situação de sedução primitiva,
genérica, aquela que reúne um adulto dotado de um inconsciente
e um infans submetido à violência de mensagens que superam
sua capacidade de simbolização. O surgimento da transferência
é como um acontecimento real que vem botar fogo no teatro, com este detalhe:
é a própria peça, aquela que se encena, que bota fogo.
Esta tese, Freud
não a sustentou, mas a apresentou sem se dar conta. O início da
análise do homem dos ratos é um momento antológico em que
a cena de sedução consiste no próprio enunciado da regra
fundamental: “diga tudo o que passa pela cabeça, mesmo o que é
desagradável...”, exatamente o que era preciso dizer a “Paul”
para o excitar ao ponto de o empurrar para fora do divã e de o ver indo
e vindo na sala. Nada, nesta cena, permite distinguir a haste avermelhada no
fogo da fantasia, aquela que excita/tortura o rato esfomeado, encerrado num
pote fixado sobre as nádegas do condenado, nada distingue o instrumento
do suplício da regra manejada pelo analista. A própria regra –
os golpes de régua16 –
inteiramente tomada pela atividade transferencial, o que sobra do enquadre,
nesse momento, reduz-se, quase só, às paredes do consultório
e à porta fechada.
Freud-analista,
nas suas primeiras sessões, dá exemplo de dois tipos de mensagens
comprometidas (pelo sexual, pelo inconsciente): a mais evidente à leitura
é quando, vindo ajudar um homem dos ratos angustiado demais, põe-se
a falar no seu lugar: posso tentar adivinhar (erraten), diz ele, este
suplício, trata-se de empalar? O rato, para onde vai? Para o ânus?
Momento transferencial, contratransferencial de atividades fantasmáticas
conjugadas17.
Mais interessante
ainda, porque homogêneo ao gesto fundador da análise, há
o enunciado da regra, já evocado, mas também o anúncio
dos honorários. Ou seja, dois elementos instauradores da situação,
que estão ligados, como se diz, ao “enquadre”, ambos recebidos/traduzidos
nos termos da sedução pelo paciente: de uma parte, o suplício
pela regra (diga tudo), de outra, a conversão do dinheiro em ratos: “tantos
florins, tantos ratos”. Pensamento culpabilizante graças ao qual
o homem dos ratos vai deliciosamente se auto-torturar em silêncio, durante
seis meses, antes de o cuspir18
já sem sabor.
Para além
de Freud, poder-se-iam multiplicar os exemplos que vão no mesmo sentido.
Que dizer, por exemplo, do convite a “se deitar”? Sem se pretender
infinita, a lista das traduções pelos pacientes desta mensagem
comprometedora é longa: “Confesse!”, “Deitado!”,
“Maria-deita-te-aí”19...
O que a hipótese
de Jean Laplanche deve ao paradigma da histeria e, além disso, ao da
neurose, é suficientemente evidente para que se faça necessário
nisso insistir demoradamente. Mas, o que acontece quando, do lado do paciente,
a exemplo de Laura, é a própria cena de sedução
que não se constituiu? Ler nos olhos daquela que o amamenta o desejo
do qual se é objeto, ou absolutamente nada ler aí, abre para vidas
(inclusive analíticas) bem diferentes. Uma das diferenças essenciais
entre o infans e o analisando, diferença que torna a hipótese
de J. Laplanche aproximativa ou circunstanciada, refere-se ao eu e à
sua história. Tal como Freud o sublinha, se as “experiências
vividas dos primeiríssimos anos da infância” se revelam tão
carregadas de significação, é porque a fragilidade de seu
eu oferece a criança à penetração, à implantação
do enigmático inconsciente. Forte ou em mau estado, o eu do paciente
adulto é de qualquer forma o resultado de uma longa elaboração,
sem falar do investimento do qual ele próprio é objeto. Este último
aspecto, o do narcisismo, muda profundamente a situação, e sabe-se
do peso que ele tem na condução do tratamento. Mesmo quando se
sustenta o caráter sexual do narcisismo, faz uma enorme diferença
para o destino da análise que o investimento caia sobre o eu mais que
sobre o objeto. Mesmo que seja demasiado apressado dizer que entre a situação
originária de sedução e a situação analítica,
o narcisismo faz a diferença, permanece o fato de que as ligações
tramadas por este último, as fronteiras traçadas, que ele desejaria
intransponíveis, bastam para embaçar a perspectiva. A dificuldade
não é menor quando os confins do eu são incertos.
A enunciação
da regra fundamental é nela mesma um indicativo, quando as informações
das primeiras entrevistas desqualificam a cena de sedução inaugural
(“diga tudo que se passa...”). Seria nada entender fazer um tal
convite àquele cuja boca, qual um “buraco hemorrágico”,
despeja sem poder se interromper sua queixa melancólica, ou àquele
outro que, enrolado como uma bola sobre a cama-divã, mergulha num silêncio
abissal. Neste sentido, o exemplo de Laura é ele mesmo complicado. Existem
várias Laura, tantas quantos lugares psíquicos que a constituem.
Moça bonita, inteligente e cultivada, muito glamour na sua apresentação,
Laura não tem falta de “teatro privado”, ela também
é histérica. Mas não é por aí que a análise
começa, nem, sobretudo, que ela se origina, para além
do seu desenrolar cronológico. Antes de pretender imitar a atemporalidade
do inconsciente, o tempo dilatado (4 a 5 sessões) que lhe é oferecido
permite acreditar na continuidade de existência, ou pelo menos na sua
eternidade.
Pierre Fédida
sublinha com razão que a alucinação negativa da pessoa
do analista é a condição de possibilidade do processo analítico,
tornando possível a abertura das transferências e sua variabilidade.
Nem sempre é o paciente que recusa esta liberdade, esta plasticidade,
imagine-se o uso sistemático que pode ser feito por certos analistas
de uma interpretação construída segundo a forma canônica:
“comigo aqui e agora, como alhures e outrora com um(a) outro(a)”.
Laura interdita
primeiro ao analista de se ausentar. Sua vida depende disso. “Se eu o
chamo durante o fim de semana, diz ela, será para verificar que não
desapareci”. Ela é adicta à presença, “desapareço
quando não estás aí”, e não há pior
ausência, pior vacância, que a do vazio que se abre sob vossos pés
quando se acreditava sustentado pelo chão. “O primeiro amor vem
de baixo”, escreve Winnicott. Quando ele vem, quando ele sustenta... Laura
conjuga a transferência no singular, satura-a. Ela lembra à sua
maneira que as qualificações da transferência em maternal
ou paternal sinalizam sempre entraves à dinâmica analítica,
modos de impedir a plasticidade das transferências. Ela é
um bebê que vigia uma mãe que não vai deixar de falhar.
Sabe, sabe absolutamente, que uma palavra vai surgir, que irá fazer desmoronar
o que acabou de se (re)constituir. Ela falava com sua mãe, ao telefone,
da morte de seu gato que acabava de ocorrer. De início, sentiu-se escutada
na sua dor, acreditou nisso, e depois não deu outra, a mãe lhe
perguntou: “Ele já está frio?”. Bateu-lhe o telefone
na cara.
Das palavras de
Freud sobre a posição respectiva dos protagonistas da cena analítica,
muitas vezes só se retém a pilhéria: “não
suporto que me olhem durante oito horas por dia”, quando a seqüência
da proposição toca no essencial: a atenção não
pode tomar a liberdade de tornar-se flutuante, de permanecer em suspenso até
à vinda do incidente, senão quando o rosto, o do analista,
é dispensado das obrigações do face a face20.
Laura reivindica atenção permanente, sua demanda de análise
é contra a análise. Ela é contra o passado, pelo presente.
Contra a interpretação, pela verdade. Se a atenção
flutua, ela afunda.
Depois de algum
tempo, ela poderá, no entanto, começar a jogar o jogo da ausência.
Para ausentar a pessoa do analista, mesmo quando ela se instala na poltrona
de frente para não o perder de vista, bastar-lhe-á uma ligeira
rotação para que se dessimetrizem as respectivas posições.
Sua frase, na sexta de noite: “não sairei daqui, vou esperar a
sessão de segunda-feira”, condensa as duas perspectivas. Manifestamente
ela diz que não há existência senão descontínua,
mais secretamente, através da nota quase imperceptível de humor,
já começa a jogar com o analista-carretel.
Que o holding
de Laura-bebê pelo seu ambiente materno tenha conhecido rupturas e descontinuidades,
não há dúvida, a transferência não pára
de atuá-lo. Uma psicoterapia do apego, uma haptonomia21,
etc... buscariam responder à dificuldade por experiências corretivas
dirigidas. Elas podem-no porque fazem economia do inconsciente, e do sintoma
como formação de compromisso entre defesa e satisfação.
Que o mamilo do seio materno seja uma zona erógena, quente ou fria, para
a mãe e, portanto, para a criança, e o aleitamento uma cena potencial
de sedução, isso só pode ser “desconhecido”
por uma teoria do apego, a fim de poder se constituir. A psicanálise,
esta, não poderia inclinar-se no sentido de uma experiência de
maternagem, senão perdendo o que a fundamenta. O desvio do dispositivo
analítico não é menos perverso, quer o analista se tome
pela mãe quer pelo amante. Que o paciente se esforce por preencher a
relação transferencial, até a saturar entre mãe
e bebê, é da sua conta; a do analista é de não responder
lá onde a repetição vem solicitá-lo. Que ele o faça,
no entanto, por exemplo, através das condutas reasseguradoras, e abre-se
para ele a análise necessária da contra-transferência. “Os
pais que interpretam o inconsciente de seus filhos se arranjam momentos difíceis”22,
tanto quanto o analista que concede a seu paciente satisfações
maternantes. Isto não impede evidentemente a psicanálise de ter
valor de experiência corretiva – dos fracassos do ambiente precoce,
do holding –, mas a partir de seus únicos meios: de uma
parte a constância, a confiabilidade do dispositivo – em certas
circunstâncias regressivas, a única coisa que o analista tem a
oferecer a seu paciente, diz Winnicott, é sua pontualidade, o que os
estragos produzidos na análise de Laura por uma sessão que tive
de remarcar me permitiram inversamente verificar. De outra parte a interpretação
“correta e oportuna”. A psicanálise não tem outra
via a seguir senão a do deslocamento e da transformação,
quando ela responde é por desconhecimento da polissemia do sintoma.
Neste duplo movimento,
de acordo e de crítica, que sucessivamente segue e contradiz a argumentação
de Winnicott, a referência conservada ao sexual infantil é decisiva.
A teoria pode achar alguma vantagem em isolar uma “função
de relação do eu” separada da vida pulsional, “isso
não impede de existir”. Que o holding fracasse, permanece
a questão de saber o que se enfia na brecha assim aberta. A angústia
do recém-nascido, enquanto sua mãe permanece na realidade muito
tempo afastada, não é dissociável do ataque pulsional interno
que o eu imaturo, apenas traçado, não consegue conter; um ataque
que intrinca desejo e destrutividade. As formas aditivas ulteriores (da dependência
ao amado às condutas tóxicas) que tomarão os sintomas,
indicam por sua desmedida que é o núcleo da experiência
pulsional, a compulsão à repetição, que se aproveitou
do fracasso para se instalar no espaço aberto.
Testemunhando
da sua análise com Winnicott, Margareth Little escreve: a sexualidade
infantil “só pode ser fora de propósito e sem significação
alguma enquanto não se está seguro de sua própria existência,
de sua sobrevivência e de sua identidade.” A afirmação
não é sustentável a não ser que se desconheça
a parte mais fragmentada do sexual, o “resto de Eros”, aquele que,
no movimento freudiano na direção da segunda tópica cairá
do lado da pulsão de morte. A mistura indiscernível de gozo e
destruição, até à morte, que caracteriza certas
toxicomanias, anorexias, etc... é a manifestação mais explícita
deste “resto”.
*
“Diga tudo
que passa pela cabeça...”, a regra fundamental convida o pensamento
ao auto-erotismo. Esta sedução, sexualização que
cria o sítio analítico, repousa sobre a convicção
de que o sexual infantil é não somente determinante do conflito
psíquico, mas também que ele contém por sua polimorfia,
sua plasticidade, capacidades de transformação que podem
se pôr a serviço da mudança psíquica. Numa extremidade
a repetição até à compulsão, na outra uma
faculdade de deslocamento sem igual. O que bem ilustram as figuras do perverso
e do “perverso polimorfo”, quer dizer, da criança. A polimorfia
infantil aproveita-se da plasticidade da pulsão para percorrer todos
os cenários e multiplicar as fantasias – antes que a genitalidade
edipiana venha restringir o leque de possibilidades –, enquanto a perversão
do adulto, tão imóvel quanto uma adição, cinge a
vida sexual numa prisão, congela o gesto sexual num programa que deve
obediência rigorosa a (uma única) fantasia.
Freud denominou
de “sublimação das origens primeiras”23,
esta fecundidade da pulsão sexual de poder se difratar em múltiplas
atividades que o senso comum jamais sonharia em definir como sexuais. Falar,
por exemplo. Entre seus lábios e em meio às bolhas (de saliva),
a criancinha que acaba de acordar, enquanto os pais ainda dormem, brinca com
os sons: “mamã, papá”. Só depois, estes sons
“vocalizados” pelo auto-erotismo tornar-se-ão palavras, coisas
úteis, a serviço da autoconservação, quando se tratar
de chamar. A linguagem é uma criação auto-erótica
– inseparável de uma cena de sedução: aprende-se
a falar pelo amor de... – antes de preencher uma função
de comunicação. É também por isto que uma criança,
fechando-se na psicose, pode nunca falar. A análise convida a ir contra
o senso comum: antes de ser uma caixa, uma caixa é um ventre (Susan Isaacs).A
naturalidade da autoconservação é tão enganadora
quanto a da necessidade.
Mesmo quando o
par associação livre/atenção flutuante – definindo
os dois regimes auto-eróticos do pensamento, no analisando e no analista
– não estiver disponível no início da análise,
como é o caso de Laura, permanece a meu ver um horizonte que não
se pode perder de vista. O objetivo, aqui, não é de introduzir
uma sexualidade infantil ausente demais, uma vez mais a desmedida das “necessidades”
sinaliza sua presença compulsiva, mas de restaurar-lhe, e até
mesmo inventar-lhe a plasticidade. Todo o playing técnico ao
qual, na oportunidade, se entrega Winnicott, não seria a interpretar
neste sentido? A sexualidade infantil não é somente o objeto da
psicanálise, ela é também o caminho.
Pádua, junho de 2006
Post-scriptum
O par de opostos,
muito pouco questionado, do desejo e da necessidade, talvez pudesse ser substituído
pelo do desejo e da exigência. O primeiro sentido de “exigir”
é fiscal, tão perseguidor quanto o imposto: pedir imperativamente
o que é devido. A exigência pede muito, pede demais, em vez de
se apaziguar, cresce com a satisfação. Impossível de contentar,
insuportável, tirânica, a exigência faz os desejos tornarem-se
ordens.
Tradução
de Luís Maia, Hélida Magalhães e Frédéric
Brighton.
Referências
FREUD, S. Trois
essais sur la théorie sexuelle [1905]. Paris: Gallimard,
1987.
FREUD, S.
Remarques sur un cas de névrose de contrainte[1909]. In: OCF-P.
Paris: PUF, 1998. v.IX, p.131-214.
FREUD, S. Un
souvenir d’enfance de Léonard de Vinci [1910]. In: OCF-P.
Paris: PUF, 1993, v. X, p.79-164.
FREUD, S. Sur
l’engagement du traitement. [1913]. In: OCF-P. Paris:
PUF, 2005. v. XII.
FREUD, S. Nouvelle
suite des leçons d’introduction à la psychanalyse [1932].
In: OCF-P, Paris: PUF, 1995. v. XIX, p.83-268.
FREUD, S. Correspondance
Freud – Pfister. Paris: Gallimard, 1966.
WINNICOTT, D.
Processus de maturation chez l’enfant. Paris:Payot, 1974.
WINNICOTT, D.
Lettres vives. Paris: Gallimard, 1989.
WINNICOTT, D.
La Nature Humaine. Paris: Gallimard, 1990.
*
V Jornada da Sociedade Psicanalítica da Paraíba, IV Jornada de
Psicanálise da Criança e do Adolescente, João Pessoa, 24
e 25 de agosto de 2007. ** da Association Psychanalytique
de France - andre.jac@wanadoo.fr 1 “Je me barre”, expressão
de gíria para “vou-me embora” 2 Freud [1913]. Sur l’engagement
du traitement. In: Oeuvres Completes. Paris: PUF, 2005. v.XII, p.175. 3 No futebol, barreira de jogadores
para reforçar a defesa. (NT) 4 Freud, é o título
da 31ª conferência (1932), OCF, XIX, PUF, 1995. 5 Freud,S. [carta de 9.10.1918].
In: Correspondance Freud / Pfister. Paris: Gallimard, 1966. 6La Nature Humaine (NH),
Gallimard, 1990, p.192-193. 7 “Laisser tomber”,
literalmente, “deixar cair”, na gíria, “deixar p’ra
lá” (NT). 8 Que ela não o segure
em seu coração é ainda uma outra história, uma história
de ódio. (“ne pas porter dans son coeur” significa: detestar,
odiar). 9NH, 153. 10 Winnicott, D. Processus
de maturation chez l’enfant (PME). Paris: Payot, 1974, p. 252. 11Lettres vives. Paris:
Gallimard, 1989, p.144. 12 Freud, S. Trois essais
sur la théorie sexuelle [1905]. Paris: Gallimard, 1987,
p.166. 13Lettres vives, op.
cit., p. 213-214. 14Lettres vives, op.
cit., p. 88. 15Lettres vives, op.
cit., p. 101. 16 “Règle”,
en francês, ‘regra’ e “régua”, em português.
“Les coups de règle” são as pancadas com a régua,
do professor. (NT). 17 (1909), OCF, IX, PUF, 1998. 18 “Cracher le morceau”
, literalmente “cuspir o pedaço”, expressão de gíria
para “confessar” 19 Na gíria, “s’allonger”,
“se deitar”, literalmente, “se alongar”, é sinônimo
de confessar, até mesmo, de trair, por exemplo, quando um delinqüente
“s’allonge” entregando o nome de seus cúmplices. “Couché!”,
“deitado!”, é o que se diz ao cachorro para que ele se submeta.
“Marie-couche-toi-là”, literalmente, “Maria-deita-te-aí”,
é uma expressão para designar uma moça, uma mulher que
“couche”, “deita” (no sentido do ato sexual) ao primeiro
convite. 20 Sur l’engagement du traitement,
op.cit., p.93 21 “Método
de comunicação com o feto pelo toque, através do ventre
da mãe” (Le Petit Robert) (NT) 22 PME, 246. 23 Un souvenir d’enfance
de Léonard de Vinci [1910]. In: FREUD, S. Oeuvres Completes,
op. cit., p.160. Esta forma de sublimação faz eco à criatividade
primária, segundo Winnicott.