Sugestão, a outra face da sedução: pela cientificidade da psicanálise*
Suggestion, the other face of seduction: in defense of the scientific character of Psychoanalysis

Luís Maia;
Fernando de Andrade
Sociedade Psicanalítica da Paraíba
Endereço para correspondência

RESUMO

Retomando a correspondência a Fliess e os sonhos da Injeção a Irma e Hella, os autores afirmam que Freud recalcou a relação entre sugestão e sedução, ao deixar de analisar a contribuição de seu próprio desejo (como teórico e analista) de encontrar “o caput Nilii da neuropatologia” na construção de teoria da sedução. Esse recalque deixou sua marca não só na construção da teoria, mas também na posteridade do movimento, marcadamente na formação dos analistas e no modo de conceber a técnica psicanalítica. No primeiro caso, critica-se a ambigüidade entre “transmissão” e “transferência”, na tradução do termo Übertragung, a qual fundamenta uma formação analítica marcada pela adesão acrítica ao sistema do mestre e pelo distanciamento em relação ao projeto científico da psicanálise. No segundo caso, critica-se a vertente hermenêutica em psicanálise, manifesta na predominância da interpretação em detrimento da análise des-tradutiva. A teoria laplancheana, ao acompanhar o movimento do próprio inconsciente, tanto na obra de Freud quanto na situação antropológica fundamental, busca atender aos requisitos da cientificidade em psicanálise.

Palavras-chave: Psicanálise, Cientificidade, Sugestão, Sedução, Teoria da sedução generalizada.

RÉSUMÉ

En reprenant la corréspondance à Fliess et les rêves de l’Injection faite à Irma et Hella, les auteurs affirment que Freud a réfoulé la rélation entre suggestion et séduction quand il n’analise pas la contribution de son désir (en tant que théoricien et analyste) de rencontrer «le caput Nilii de la neuropathologie» dans la construction de sa théorie de la séduction. Ce refoulement a laissé sa trace non seulement sur la construction de la théorie mais aussi sur la postérité du mouvement, spécialement sur la formation des analystes et la façon de concevoir la technique psychanalytique. En ce qui concerne la formation, on critique la confusion engendré par la traduction du terme Übertragung, soit comme «transmission», soit comme «transfert». Cette confusion fonde une formation analytique marquée par l’adhésion non-réflechie au système du maître et, conséquemment, par l’éloignement par rapport au projet scientifique de la psycha-nalyse. Quant à la technique, on critique la tendance herméneutique en psychanalyse, manifeste dans la prédominance de l’inter-pretation au détriment de l’analyse de-traductive. Parce qu’elle accompagne le mouvement de l’inconscient lui même, à l’oeuvre de Freud autant qu’à la situation anthropologique fondamentale, la théorie laplanchienne cherche à atteindre aux éxigences de la scientificité en psychanalyse.

Mots-clés: Psychanalyse, Scientificité, Suggestion, Séduction, Théorie de la Séduction Généralisée.

 

 

Em certo congresso de psicanálise, um analista começou sua intervenção numa mesa redonda em que se tratava da relação entre a psicanálise e uma ciência empírica, lembrando que Lacan, no início, tentou colocar a psicanálise no campo da ciência, mas, depois, acabou por situá-la do lado da magia e da religião. Em vez de uma crítica, era uma constatação que em nada parecia chocar-se com a própria prática. Entre magia e religião ele sentia-se à vontade. E a assistência dividiu-se entre os que ficaram perplexos com tal afirmação e os que estranharam essa perplexidade.

Deriva do pensamento lacaniano ao sul do Equador, deriva da psicanálise lacaniana, deriva da psicanálise! A afirmação espanta por não se esconder atrás de alguma fórmula rebuscada. Viesse ela na forma de algum preciosismo verbal e talvez passasse por uma dessas que mais entediam do que propriamente escandalizam. Por sua ingênua clareza, ela nos desperta da sonolência provocada pelo efeito narcotizante de um certo estilo.

Precisar defender a cientificidade da psicanálise, um século depois da sua constituição como campo de saber, eis o que nos deveria espantar. Sobretudo porque, a esse respeito, Freud nunca titubeou. Imaginá-lo pretendendo ter inventado uma ética exige um esforço de imaginação. E, no entanto, o que parece espantar é que ainda se defenda o caráter científico da psicanálise. Como se, de repente, se resolvesse vestir uma roupa que, esquecida no fundo da gaveta, há muito tivesse saído de moda. Algumas das razões desse esquecimento e a importância desse resgate é o que tentaremos analisar.

***

Quando a comissão nomeada por Luís XVI e presidida por Lavoisier, para efetuar um exame do “magnetismo animal” e prestar contas ao rei, concluiu que a água da tina de Mesmer era simplesmente H2O e, portanto, não explicava a crise, o naturalista Jussieu ousou questionar: se não era a água, se não era outro elemento identificável, o que, então, provocava a crise?1

Um século depois, a resposta a essa pergunta estava sendo formulada em termos de sugestionabilidade: para Charcot, uma característica própria da histeria; para Bernheim, uma possibilidade generalizada.

Freud entra nesse debate informado pela cura de Anna O., por Breuer2. Em vez de calá-lo, como acontecia no método sugestivo, a catarse fazia o sintoma falar. Desvelava-se, assim, “o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos”3. A etiologia permanecia, no entanto, por explicar. A hipótese de Breuer, na circularidade de sua explicação em termos de “estados hipnóides”4, retomava, em linhas gerais, a teoria traumática de Charcot, ao postular uma fragilidade congênita do histérico. Não era a natureza do estímulo que explicava seu caráter traumático, mas o incremento de sugestionabilidade que caracterizava aqueles estados.

Em que consistiu a contribuição de Freud com sua teoria da sedução? Ao caracterizar como de natureza infantil o que se imputava à suposta fragilidade do histérico, primeiro, ele postulou uma teoria etiológica da histeria e não apenas uma explicação do “mecanismo psíquico”; segundo, transformou a neurose numa possibilidade aberta a todo ser humano; terceiro, ressaltou a prioridade do outro, adulto. Evitou, porém, uma análise que lhe teria permitido constatar como essa prioridade do outro pode ser atualizada na forma de uma relação de sugestão. À questão ”se a sugestão explica o sintoma histérico, o que é que explica a sugestão?” Freud vai responder com a teoria da sedução. Neste movimento, porém, desaparece o termo intermediário: se a sedução explica a histeria, se não é necessário recorrer à sugestão, não é preciso explicá-la. Quando, mais tarde, Freud caracterizar a relação de sugestão em termos de transferência, a prioridade do outro ficará, se não esquecida, pelo menos relegada a um segundo plano, uma vez que a transferência, em Freud, tenderá a uma direção centrífuga, no sentido paciente analista5.

No sonho “da injeção de Irma”6, sonhado na vigência da teoria da sedução, Freud parece dividido entre dois diagnósticos: se Irma fosse histérica, precisaria aceitar a “solução”de Freud, “de abrir a boca”7 para relatar a cena de sedução que estaria na origem da sua doença e confirmar, assim, a verdade da teoria de Freud. Mas, viúva e abstinente, seu diagnóstico poderia ser também de neurose de angústia, para a qual a psicoterapia seria inoperante e a profilaxia apontaria para a necessidade de uma prática sexual. Na primeira possibilidade, ela precisaria recordar uma cena de sedução; na segunda, ele poderia realizá-la. A atualidade da neurose de angústia repetia, assim, sob a forma de uma necessidade profilática, a causa da psiconeurose. Então, no sonho, Irma abre a boca e Freud vê um quadro perturbador que o remete às suas próprias falhas profissionais e o leva a pensar que “a seringa não devia estar limpa” e a se censurar porque “injeções dessa natureza não devem ser feitas tão impensadamente”8 9.

Na carta do equinócio de 1897, um dos argumentos de Freud para descrer da sua neurótica foi a impossibilidade de distinguir, no inconsciente, “entre a verdade e a ficção que foram (investidas) pelo afeto”10. Mas uma questão anterior se colocava: de quem era o desejo que animava a cena de sedução? No sonho Hella11, o desejo de confirmar essa neurótica em que, dois meses depois, deixará de acreditar, transforma em sedutor o pai da histérica Mathilde, aquela que devia se chamar Hella, pois ao chorar, nas derrotas dos gregos contemporâneos, as derrotas de seus heróis míticos, ela “sofre de reminiscências”12. E, na carta do equinócio, Freud lamentava a perda das belas perspectivas que para ele se abririam: “a expectativa da fama eterna era belíssima, assim como a da riqueza certa, independência completa, viagens e elevar as crianças acima das graves preocupações que me roubaram a juventude”13.

Freud nunca admitiu que “a seringa” de seu desejo pudesse ter influenciado nos dezoito14 relatos de sedução que refere. Limitou-se a abandonar discretamente sua neurótica e, mais tarde, a dar o sentido dessas revelações: lá onde as pacientes acusavam a sedução paterna, era o próprio desejo delas que aparecia. Nesse movimento, todavia, o inconsciente deixou de coincidir com o recalcado, perdendo sua característica de “corpo estranho interno”, para se constituir num originário que lançará suas raízes até à filogênese; a sexualidade infantil, afinal descoberta, foi caracterizada como “espontânea, de desenvolvimento essencialmente endógeno”15; o complexo, que virá a tornar-se “nuclear”, esse complexo que se revelara na visão da matrem nudam16, foi caracterizado como de Édipo e não de Laio ou de Jocasta. Subjacente a esse movimento da metapsicologia, verifica-se a evolução das “transferências” – uma modalidade de deslocamento – para a “transferência” - repetição, na relação ao analista, dos protótipos infantis. Definitivamente, a direção centrípeta da teoria da sedução muda de sentido: sexualidade, Édipo e transferência são da criança (e da criança no adulto), e a prioridade do outro é esquecida.

A teoria evoluiu e Freud chegou mesmo a fazer uma análise da relação de sugestão17. Mas, como mostrou Laplanche, a “revolução copernicana” permaneceu “inacabada”18. Um dos motivos dessa incompletude parece-nos residir na impossibilidade inicial de Freud de articular seu desejo, esse de ser o descobridor da “caput Nili na neuropatologia”19, às queixas que o levaram à teoria da sedução20. A simples possibilidade de que tais queixas se devessem à sugestão arrasaria sua promissora teoria, uma vez que a questão se colocava em termos equivocados: não se tratava mais de saber se houve ou não sugestão mas de decifrar sua natureza. Pois o que um aprofundamento do problema teria revelado era que, primeiro, essa relação não era nem consciente nem deliberada; segundo, (contra)transferencial, ela repetia, na sincronia do espaço analítico, a diacronia de um tempo histórico-fantasmático; terceiro, seu protótipo tinha, porém, o sentido adulto ® criança; quarto, sedução e sugestão eram, afinal, as duas faces de uma mesma moeda.

Não por acaso, é nos sonhos, a mais autista das manifestações psíquicas, que Freud buscará chão firme quando não mais puder acreditar na sua neurótica. Quem o poderia acusar de sugerir o enredo dos sonhos?21 Essa estratégia defensiva impediu-o, porém, de desenvolver a possibilidade de que, entre os desejos que os sonhos realizam, estivesse a tradução das mensagens enigmáticas do outro. E, desse modo, o Trieb tendeu, cada vez mais, a buscar seu fundamento na filogênese, a fazer-se Instinkt.

Como um verme na fruta, essa impossibilidade de Freud de analisar o quanto seu desejo estava subjacente às queixas de sedução e, consequentemente, o quanto isso foi determinante no abandono da neurótica, vai, por um lado, repercutir na formação dos analistas e, por outro, na constituição da própria técnica psicanalítica.

Em relação à repercussão sobre a formação dos analistas, talvez seja Lacan, com a sua postulação de que “a psicanálise não se ensina, se transmite”, quem melhor permite a explicitação da questão. Como se sabe, esse termo “transmissão”é uma das traduções possíveis para Uberträgung, que, na língua de Freud, tem sempre o sentido de “transferência”22. Ora, ao “injetar” este outro sentido no termo freudiano, Lacan condensa, em forma de aforismo, a conclusão de um silogismo: se não há análise sem transferência; se não há formação analítica sem análise pessoal, então (conclusão problemática), a formação analítica é feita por Uberträgung transmissãotransferência. Quando o analista antes referido não se escandaliza, nem mesmo se espanta que Lacan tenha colocado a psicanálise do lado da magia e da religião, ele é produto dessa formação por transferência ao mestre.

Lacan não foi o primeiro, nem certamente o último, a transformar um método que se pretende libertador dos determinismos inconscientes, em estratégia “de poder, de doutrinação, de afiliação”23. O processo é coextensivo a uma anomalia denominada “análise didática” — se “didática”, não poderá ser “análise”; e se “análise”, não poderá ser “didática”24.

Quando, afinal, em Psicologia das massas e análise do eu, Freud desvela a natureza da relação de sugestão — através da comparação do par hipnotizador–hipnotizado, primeiro, com a relação entre o apaixonado e seu objeto25, depois, com a relação entre o líder e as massas —, ele põe em evidência a fascinação do objeto quando chamado a ocupar o lugar de eu-ideal. E aos exemplos da relação dos cristãos ao Cristo e dos soldados ao comandante-em-chefe26, ele poderia ter acrescentado esse terceiro, da relação de alunos, analisandos e seguidores, aos fundadores de escolas psicanalíticas.

É significativo que Laplanche, o psicanalista que, na posteridade de Freud, mais tem insistido na prioridade do outro27, no descentramento do inconsciente, no caráter inacabado da revolução copernicana de Freud, seja também aquele que, ao pôr à prova a sua teoria, acaba por apontar para a necessidade de que a teoria psicanalítica se submeta a essa exigência, evitando os efeitos dessa sugestão que, por tanto tempo ocultada, continua produzindo resultados nefastos na contemporaneidade psicanalítica. Se a ciência não admite o argumento de autoridade, a psicanálise tampouco se pode transmitir pela transferência a um mestre. A prática científica da psicanálise deverá separar o joio do trigo e relegar, assim, certas práticas, que se pretendem psicanalíticas, ao rol das mágicas e das verdades reveladas.

Como Freud com Irma, a transmissão pela transferência faz da palavra do analista uma palavra de mestre que pretende “injetar”, a qualquer custo, seus conceitos, os quais, por não serem falseáveis, só se mantêm às custas de um dogmatismo que é tudo, menos ciência. A partir do que falaria um certo sujeito do inconsciente, pela boca de cada paciente, corre-se o risco de transformar a psicanálise numa prática do convencimento a respeito de não importa qual verdade teórica pressuposta.

E, aqui, evidencia-se um aspecto complementar da questão, aspecto que vai repercutir na concepção da própria técnica psicanalítica. Referimo-nos à ênfase na interpretação como método de tradução, ao invés da ênfase na des-tradução e na recusa da psicanálise como uma hermenêutica.

Se o trabalho psicanalítico existe em oposição ao do recalque, se consiste, em última instância, em reavivar o enigma da sexualidade que encontrou no sintoma uma forma secundária e neurótica de tradução, então a interpretação do inconsciente através de teorias apriorísticas situa-se em oposição ao trabalho de análise. Utilizar a teoria como chave interpretativa é impedir o movimento tradutor inerente à dinâmica psíquica, caracteristicamente pulsional. É querer “injetar” as verdades — religiosas? mágicas? — de uma teoria que não se põe à prova.

No melhor dos esforços científicos, Freud instaura uma regra para o analista: suspensão do juízo, atenção flutuante. Ora, esse imperativo é tanto epistemológico quanto metodológico: da clínica, a suspensão de juízo, numa surpreendente extensão, alcança a própria teoria, essa representante da ciência. Por mais conhecimento teórico que se produza sobre o inconsciente, é preciso não pretender já sabê-lo, a fim de que o inconsciente de cada ser humano — o paciente não é o verdadeiro tradutor?— possa emergir.

Igualmente, há que se reconhecer nesta posição um realismo epistemológico e ontológico. A adoção da falseabilidade popperiana já fala dessa epistemologia que, longe de perder de vista o universal do humano, dele se aproxima e o situa no plano de uma experiência tão pessoal quanto comum a todos os seres humanos: a situação antropológica fundamental define o conhecimento sobre o inconsciente não a partir de uma estrutura desencarnada e atemporal, cujas origens ter-se-iam perdido no tempo mítico do totem ou da formação do primeiro sistema lingüístico. Não, as origens do conhecimento sobre o inconsciente estão em cada encontro, desigual, psiquicamente desnivelado, entre o adulto e a criança por ele cuidada e desejada. Conhece-se porque não se pode conhecer tudo, porque, na fonte desse impulso para conhecer, está o esforço de traduzir o que, por se ter tornado inconsciente para a criança, nunca será totalmente conhecido pelo futuro adulto.

A ontologia laplancheana fala, portanto, de um realismo do inconsciente, não certamente no sentido de um empirismo ingênuo que ambicionasse “localizar” o inconsciente na anatomia ou na fisiologia cerebral; mas, sim, na generalização das experiências reais de sedução, as quais dão origem, de maneira nada mítica, ao inconsciente de cada indivíduo.

Opor-se a um inconsciente estruturado é, entre outras coisas, pressupor que a sedução não tem, além de suas premissas fundamentais, nenhuma forma prévia e que cada inconsciente é constituído de forma singular, porque a mensagem não total ou adequadamente traduzida lá deixou seu resto, que passa, desde então, a exigir tradução. Insistir que o critério definidor do inconsciente é a sexualidade infantil recalcada, permite, por fim, enxergar essa concepção de ser humano que — longe de tornar-se o hospedeiro do Outro que, como o dito sujeito do inconsciente, próprio da linguagem, falaria por meio dele — se faz indivíduo justamente na relação com outros particulares, co-responsáveis pela constituição de uma situação que, desnivelada no que diz respeito à sexualidade, é condição de humanização.

Partir de uma ontologia realista é assumir que há, no psiquismo humano, uma dimensão inconsciente nem mais nem menos importante, nem mais nem menos autônoma, nem mais nem menos singular que a dimensão consciente, com a qual forma um psiquismo complexo e conflituoso, mas não bicéfalo. É admitir que o inconsciente não é transindividual nem, tampouco, “um conceito científico, uma lei ou[...] uma simples referência”28. Sem deixar de impulsionar a produção de teorias, é uma realidade que não deve ser tratada deôntica ou dogmaticamente, sob pena de só se produzirem... novos mitos, dogmas e ideologias certamente confortantes, mas, em sua conveniência, nada producentes.

Concluindo, o movimento laplancheano pela cientificidade da psicanálise, é um movimento de desalienação que, ao caracterizar toda a teoria como passível de falsificação, diminui o brilho e a sedução dos grandes mestres, de suas doutrinas e de seus dogmas, apontando para o devir de um processo científico em constante progresso. Somente o reconhecimento de sua cientificidade é capaz de proteger a teoria psicanalítica do perigo de se transformar em hermetismo inquestionável e em pensamento tautológico, o qual, afirmado ou negado, sempre se confirma.

 

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Luís Maia
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Recebido em 25/05/2008

 

 

* Suggestion, l’autre côté de la séduction: pour la scientificité de la psychanalyse. Psychiatrie Française, v. 38, n. 4/07, p. 54-62, dec. 2007; número temático: Théorie de la séduction: validation, réfutation. Reúne as contribuições às Journées Internationales Jean Laplanche, Lanzarote, julho de 2006.
** Sociedade Psicanalítica da Paraíba.
1 Cf. Chertock, Léon; Stenger, sIsabelle . O coração e a razão: a hipnose de Lavoisier a Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990. p.23-29.
2 Breuer, Joseph. “Fräulein Anna O.” Estudos sobre a histeria [1895]. In: ___.Edição standard brasileira das obras psicológicas completas. Rio de Janeiro: Imago, 1980. v. II, p.63-90.
3 Freud,Sigmund; Breuer, Joseph. Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos [1893], op.cit., pp.43-59.
4 Breuer, Joseph. Considerações teóricas, op.cit., p.237-308.
5 No entanto, “a arte agora consistia em desvelar essas resistências o mais rápido possível, mostrá-las ao paciente e utilizar então nossa capacidade humana de persuasão (aqui a sugestão estava então operando como “transferência”) para convencê-lo a abrir mão dessas resistências.” (Freud, S. Além do Princípio de Prazer [1920], OPSF, v. 2, p.144).
6 Freud, Sigmund . A interpretação de sonhos. [1900], In: ___.Edição standard brasileira das obras psicológicas completas. Trad. de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. IV, p.103-130.
7 Id., ibid., p.115.
8 Id., loc., cit.
9 Cf. Maia, Luís . A teoria da sedução no sonho da injeção de Irma. Psychê: Revista de Psicanálise, São Paulo, ano 5, n. 7, p. 59-67, 2001.
10 Freud, Sigmund . Carta de 21 de setembro de 1897,In:____. Correspondência completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess. Rio de Janeiro: Imago, 1986. p.266: «(investidas)» em vez de “catexizadas”.
11 Id., ibid., Carta de 31 de maio de 1897, p.250.
12 Freud,Sigmund; Breuer, Joseph. Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos. [1893]. op.cit., p.48.
13 Freud,Sigmund: Carta de 21 de setembro de 1897, op. cit., p.267.
14 Freud, Sigmund . A etiologia da histeria [1896], op. cit., v.III, p.226.
15 Laplanche, Jean; Pontalis; J.-B. Fantasia originária, fantasia das origens, origens da fantasia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p.38.
16 Freud, Sigmund . Carta de 3 de outubro de 1897, op. cit., p.269.
17 Freud, Sigmund . Psicologia de grupo e análise do ego [1921], op. cit., v.XVIII, p.89-179.
18 Laplanche, Jean. Ponctuation. In: ___. La révolution copernicienne inachevée. Paris: Aubier, 1992. p.III-XXXV.
19Freud, Sigmund . A etiologia da histeria [1896], op.cit., p.230.
20 Entenda-se, o desejo de Freud sugeriu as queixas de sedução, assim como o desejo de Breuer está subjacente à gravidez imaginária de Anna O. Melhor do que “imaginária”, aliás, “metafórica”, pois o fruto desse encontro está longe de ser “imaginário”.
21 Essa foi, no entanto, a acusação de Fliess quando as relações entre os dois se romperam.
22 Laplanche, Jean. La psychanalyse dans la communauté scientifique. In:___. Entre séduction et inspiration: l’homme. Paris: PUF, 1999. p.174.
23 Id., loc., cit.
24 Cf. Laplanche, Jean. La didactique: une psychanalyse ‘sur commande’. In: ___. op.cit., p.115-126.
25 Freud, Sigmund. Psicologia de grupo e análise do ego. [1921], op.cit., p.141-147.
26 Id., ibid., p.119-125.
27 Entenda-se “outro”, em minúscula.
28 Laplanche, Jean . O Inconsciente e o Id. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p.32.